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Roberto Rodrigues: uma agenda para o agronegócio

postado em 12/03/2010

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Com participação no 11º Agrocafé, no dia 08 de março, Roberto Rodrigues, ex-ministro da agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, ministrou palestra intitulada "Uma agenda para o agronegócio no século XXI". Primeiramente ele falou sobre a importância da agricultura no mundo e para a vida. "A melhor parceria que existe é entre Deus e agricultor: Deus dá a vida, e o agricultor é quem faz ela continuar."



Roberto Rodrigues afirmou que o agronegócio precisa ser competitivo com sustentabilidade, e para isso, fez uma análise desde o pós-crise.

Pós-crise

"O drama da comunidade é a concentração da renda", disse ele. A crise deu a possibilidade de regular o sistema financeiro, porém não houve mudança, e pior, a crise gerou novas barreiras, fazendo o Brasil perder capacidade de avançar.

As instituições multilaterais como ONU, FAO, OMC, G20, etc., não estão conseguindo empregar seus papéis. Roberto afirma que "cada país faz o que bem entende, cria suas regras", não dando importância para o que essas instituições pregam. Resumidamente, está havendo uma incapacidade das economias mundiais terem estratégias e governança.

Isso pode ser percebido também através dos assuntos relacionados a economia verde, ou seja sustentabilidade e aquecimento global. "Todos falam em redução de emissão de CO2, mas ninguém fala em sequestro de carbono, que o Brasil já faz; ninguém fala em pagar para que áreas sejam preservadas, ou melhor, pagar para o Brasil fazer o que os demais países não fizeram. A COP 15 que ocorreu em Copenhague demostra exatamente essa falta de governança. "Nada foi decidido, estão todos perdidos, ninguém sabe para onde ir e o que vai acontecer.", comenta o ex-ministro da agricultura.

Aí surge a pergunta: Qual o papel do Brasil no novo cenário mundial?

O Brasil tem a melhor tecnologia tropical do planeta e ocupa papel importante no segmento da agroenergia, tendo capacidade de suprir as demandas energéticas com bases em processos sustentáveis do ponto de vista econômico, social e ambiental.

A busca por tecnologia sustentável tem influenciado os países para que cada vez mais busquem alternativas energéticas menos poluentes e com perspectivas de renovação, e o Brasil tem grande capacidade para isso, além da forte capacidade para produção de alimentos, fato invejável pelos demais.

Roberto Rodrigues chama atenção para o fato de que "o agronegócio depende do produtor, mercado e consumidor. O mundo fala em sustentabilidade, mas é importante lembrar que a sustentabilidade considera três vertentes: ambiental, social e econômica. O problema desse conceito é que cada agente do agronegócio puxa para o seu lado, impedindo que se consiga um equilíbrio."

A sustentabilidade tem que ser trabalhada considerando essas três vertentes, e para isso tanto produtor como consumidor precisam ter renda.

Produtor

Em relação ao produtor rural, é necessário que se tenha tecnologia, e o Brasil tem. Em relação a produção de grãos por exemplo, em 20 anos a área plantada cresceu 26% enquanto a produtividade cresceu 147%. "Isso é tecnologia e fez com que florestas fossem preservadas.", comenta ele.

Os produtores dependem também de seguro e crédito rural. "O seguro rural foi criado, mas ainda estamos patinando no que realmente garante renda". Já o crédito rural conta com um atraso da lei criada em 1965.

O acesso a insumos é outro fator de dependência para sustentabilidade da cadeia. O solos brasileiros são pobres, exceto algumas regiões. Por isso há necessidade construir a fertilidade dos solos, precisando investir em fertilizantes. Porém, o Brasil depende de importação de fertilizantes.

Contudo, o Brasil é pioneiro em práticas conservacionistas de agricultura tropical. Há um grande crescimento nas áreas de plantio direto, colaborando para o sequestro de 0,57% de C/ha/ano. Além disso, o sistema de integração lavoura/pecuária está funcionando, sendo uma ótima alternativa à recuperação de pastagens degradadas, melhorando as características físico-químicas do solo, eliminando a necessidade de abertura de novas áreas.

"O País tem tido grandes avanços, mas falta muita organização.", aponta Rodrigues.

Consumidor

Como já dito anteriormente, o consumidor também precisa ter renda. Num segundo plano, há necessidade de investimentos, para geração de empregos e riqueza.

A renda per capta tem crescido mais nos países em desenvolvimento do que os desenvolvidos, ocasionando uma explosão de demanda, tanto por alimentos como os demais bens de consumo.

Com o aumento de investimento, renda, empregos e salário, há mais investimentos em saúde. Percebe-se que a pirâmide etária tem mudado, havendo maior expectativa de vida. Esse cenário exige um consumo maior por proteína e frutas e menos por carboidratos.

Em relação aos estoques, a demanda mundial tem crescido mais que a oferta, gerando queda dos estoques mundiais.

Os programas sociais como Bolsa Família e Fome Zero tem colaborado para melhoria da renda dos consumidores e para o cenário apresentado.

Então, o que falta em relação ao consumidor? Novamente, organização.

Mercado

Em relação a mercado, há falta de infraestrutura e logística, instrumentos de mercado, legislação, negociação internacional e promoção comercial.

A maior parte das rodovias brasileiras se encontram de regular a péssima condição, sendo esse modal o mais caro e de maior participação no transporte de cargas brasileiro.

Em relação a negociação internacional, há de se concordar que o acordo externo é muito mais importante que a agregação interna, mesmo porque de nada adianta ter excelentes produções se não tem quem comprar.

No mercado há muitos pontos funcionando como: sanidade, rastreabilidade, qualidade, serviços ambientais e energia biocombustível. Porém, o Brasil precisa saber aproveitar as oportunidades do mercado.

O Brasil tem grande capacidade de produção de biocombustíveis. Esse tipo de energia só pode ser produzido em países com grande incidência de luz solar, ou seja, só na região tropical do planeta. Isso significa que apenas, em média, 100 países podem fornecer biocombustíveis para mais de 200 nações. Para aproveitar esse nicho é necessário estratégia.

A agroenergia é um nicho de mercado. Não porque há falta de petróleo, mas como foi descoberto um tipo de energia mais sustentável, esse mercado vai se desenvolver mais diante daquele.

Conclui-se que o Brasil está se desenvolvendo muito e tem capacidade para mais, porém falta organização e estratégia.

O futuro do agronegócio brasileiro

Fazendo uma projeção para 2019/2020, o ex-ministro da agricultura afirma que certamente o consumo continuará aumentando. O Brasil tem suas vantagens competitivas para abastecer essa demanda crescente como: terras disponíveis, recursos humanos e tecnologia.

Roberto Rodrigues fez questão de afirmar que muitas coisas não caminham pois os problemas estão fora do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Problemas como:

-Crédito rural: custeio, investimento e comercialização;
-Recursos materiais e financiamentos;
-Infraestrutura e logística;
-Juros e câmbio;
-Negociações internacionais;
-Legislação ambiental brasileira.

Todos esses entraves são de responsabilidade de outros ministérios, o que traz dificuldade para resolução dos problemas enfrentados no agronegócio brasileiro.

Conclusão

"Temos um potencial competitivo e formidável no agronegócio, que levará o Brasil ao primeiro mundo, porém, há uma longa tarefa de casa para realizar: organizar-se. O mundo está sem governança e para governar é preciso estratégia. Depois disso, é preciso informar, comunicar, convencer, dentro e fora do Brasil e por fim aproveitar a chance inédita de ganhar a guerra" encerrou Roberto Rodrigues.

Roberto Rodrigues foi muito aplaudido pelo público presente no 11º Agrocafé, que teve o objetivo de discutir os problemas enfrentados pela cafeicultura, visando encontrar soluções para o setor.

Confira abaixo a apresentação em slide de Roberto Rodrigues.



Artigo relacionado: Agrocafé: Kátia Abreu fala sobre desafios do campo

Natália Fernandes, equipe CaféPoint, enviada ao 11º Agrocafé pela AgriPoint.

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Comentários

Francisco Sérgio Lange

Divinolândia - São Paulo - Produção de café
postado em 16/03/2010

Caro Roberto,

Não consigo enterder até hoje o porque de sua saida do ministério.
Homem com tamanho conhecimento politico da agricultura, profundo conhecedor do sistema cooperativista em fim, um legitimo representante da classe produtora mas, infelizmente distante da da nossa realidade, da realidade de milhões de pequenos produtores deste pais. Quando voce fala que temos uma longa tarefa de casa ou seja a organização, até parece que o tempo não passou.
Temos feito um enorme esforcó para continuarmos de pé por isso, acredito que voce tem ainda uma enorme responsabilidade.
Aproveito para convidá-lo a participar de um evento aqui no nosso município no dia 17 de abril de 201`0`às 15 hs. Será um evento no bairro Ribeirão do Santo Antonio, comunidade cafeeira de grande importancia para oi nosso municipio. Claro que se trata de um evento simplório mas tenho certeza que terá enorme repercucáo pois estaremos reunindo produtores, associacões e sindicatos para elegermos proposta que nos conduzam a organizacão.
Contamos com seu apoio.

Saudações cafelistas.


Roberto Rodrigues, EM RESPOSTA a carta acima.

Prezado Sr Francisco Sergio Lange,

Agradeço sua prezada correspondêcia que me foi enviada pela gentil Natália.

Saí do Ministério porque achei que minha missão estava cumprida e não havia mais espaço para realizar tudo o que sonhava fazer.

Lamento que considere que estou fora da sua realidade: trabalho há 40 anos com cooperativas e achei que entendia um pouco de pequenos produtores, porque eles são mais de 80% dos cooperados de todas as cooperativas do mundo e também no Brasil. Mas me desculpo por decepcioná-lo.

Continuo porém convencido que não temos estratégia porque somos desorganizados, e nessa tese não estou só.

Teria enorme prazer em visitar Divinolandia para conhecer mais de perto a realidade daí, mas infelizmente minha agenda, que independe de minha vontade, está sempre cheia com 3 a 4 meses de antecipação. Lamento por isso, e espero ter outra oportunidade.

Mais uma vez, obrigado pela atenção.

Forte abraço

Roberto Rodrigues


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