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Produtor rural: vilão ou herói?

Por Marcello de Moura Campos Filho
postado em 09/06/2009

12 comentários
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Em cinco de junho passado, dia mundial do meio ambiente, a Folha de São Paulo publicou um suplemento especial sobre o tema, onde uma das matéria, baseada em pesquisa do Datafolha mostra que o brasileiro culpa o fazendeiro por desmatamento. A pesquisa revela que 7 em cada 10 pessoas acredita que os fazendeiros têm muita responsabilidade com relação a devastação da floresta.

É evidente que para plantar alimentos e criar animais os produtores rurais no Brasil, como em qualquer parte, tiveram que desmatar. Se não tivessem feito isso, se a vegetação nativa tivesse sido mantida como era quando Cabral aqui chegou, a população brasileira não teria crescido e chegado a 190 milhões de habitantes, que hoje vivem na sua maioria em áreas urbanas, e parecem não ter ideia da realidade da produção dos alimentos que chegam a sua mesa, ou da cana para o etanol, puro ou misturado à gasolina, que é consumido pelos veículos que usam para trabalhar e para passear.

Os produtores rurais sabem que precisam preservar o meio ambiente, os mananciais e rios, as florestas e o solo, para poder produzir e assegurar a sustentabilidade da sua atividade agrícola e pecuária. Mas é óbvio que não podem produzir sem ter terras para a agricultura e pecuária. É preciso um equilíbrio entre as necessidades da produção de alimentos e as necessidades de preservar o meio ambiente, mas parece que a grande maioria urbana não sabe disso.

E essa maioria de brasileiros urbanos, toda vez que sobe o preço dos alimentos, é levada a crer que a culpa é dos produtores que seriam vilões gananciosos, parecendo ignorar que, para produzir os alimentos e a cana para o etanol que a sociedade consome, os produtores dependem de mão de obra, de insumos diversos e das condições do tempo, cujas variações afetam fortemente o custo da produção. Essa maioria urbana também parece ignorar que os produtores rurais, com seu sacrifício, asseguraram a "âncora verde" que foi fundamental para eliminar a inflação desenfreada e conseguirmos chegar à estabilização da nossa moeda, beneficiando a sociedade brasileira, particularmente os mais pobres. E a maioria urbana parece também não saber que o próprio Governo ignora as dificuldades do produtor rural e não os ajuda como acontece em outros países, onde o Governo reconhece o papel fundamental dos produtores rurais para a sociedade e a dificuldade que eles têm para assegurar o alimento para a grande maioria urbana.

Se a maioria dos brasileiros que vive nas cidades soubesse da realidade, talvez ao invés de achar que os produtores rurais são vilões, responsáveis por preços altos dos alimentos, predadores do meio ambiente e devastadores de florestas, talvez achasse até que os produtores rurais são heróis, que trabalham duro para o bem estar da grande maioria que vive nas cidades.

O que a grande maioria da população urbana precisa saber é que é necessário um equilíbrio entre as necessidades da produção de alimentos e as necessidades de preservação do meio ambiente, e que esse equilíbrio não será conseguido com discussões emocionais que só geram desentendimento, mas sim com o entendimento baseado numa discussão técnica e racional.

Um exemplo disso é a questão da reforma do Código Florestal, datado de 1965, e que o próprio ministro do Meio Ambiente, já admitiu que é necessária. Mas a discussão técnica e racional dessa questão se torna impossível se o ministro do Meio Ambiente, ou qualquer ambientalista, partir do preconceito que os produtores rurais são vilões, bandidos, predadores do meio ambiente e devastadores de florestas e adotarem posturas emocionais que fogem do bom senso e dos fatos técnicos e científicos. A grande maioria dos brasileiros, que são urbanos, precisam estar consciente que precisamos equilíbrio entre as necessidades de produzir e as necessidades de proteção do meio ambiente, e que esse equilíbrio é fundamental para o bem estar da sociedade brasileira. A propriedade rural, para cumprir sua função social, tem que equilibrar as necessidades de produção de alimentos, de proteção do meio ambiente e de geração de postos de trabalho. Não é possível ver só um lado da questão, ignorando os outros, e o que é pior, achando que quem olha para os outros aspectos são vilões, bandidos ou vigaristas.

A reforma do Código Florestal envolve fundamentalmente a questão da caracterização das áreas de preservação ambiental, percentuais de área de reserva legal e se no computo da reserva legal deve ou não estar incluída as áreas de proteção ambiental.

O suplemento do meio ambiente da Folha de São Paulo apresenta dados interessantes sobre essa questão, relativos às terras que estariam disponíveis para agricultura no Brasil, considerando os parâmetros do Código Florestal atual e comparando as situações das áreas de preservação permanente serem ou não incluídas no computo da área de reserva legal.

O pior cenário de disponibilidade de terra para a agricultura e pecuária seria manter a situação como disposto no Código Florestal atual, onde as áreas de preservação permanente não podem ser consideradas dentro da reserva legal. Nesse caso, as terras disponíveis para a agricultura e pecuária seriam de 29% segundo a Embrapa e de 36% segundo o Ipam (ONG). Esse seria o melhor cenário para proteção do meio ambiente, com área preservada de 71% segundo a Embrapa e de 64% segundo o Ipam, mas pode ser pouco para assegurar a produção de alimentos que o País precisará nos próximos 30 anos. Existem outros países onde a legislação sobre áreas de preservação permanente e reserva legal limite a algo entre 29% a 26% para as áreas destinadas à agricultura e pecuária? Quais seriam esses países?

O melhor cenário de disponibilidade de terra para a agricultura e pecuária seria o que considera que as áreas de preservação permanente estariam computadas dentro da reserva legal. Nesse caso, segundo avaliação da Embrapa, as terras disponíveis para agricultura e pecuária seriam de 42% segundo a Embrapa e de 43% segundo o Ipam (ONG). Esse seria o pior cenário para a proteção do meio ambiente, mas mesmo assim teríamos 58% segundo a Embrapa e 57% segundo o Ipam de área preservada no País. Existem outros países onde a legislação assegure percentuais de suas áreas pelo menos próximo destes para preservação do meio ambiente? Quais seriam esses países?

A grande maioria da sociedade brasileira, que é urbana, precisa saber que o pleito dos nossos produtores rurais de na reforma do Código Florestal se considerar nas áreas de reserva legal as áreas de preservação ambiental não pode ser recusado por argumentos emocionais e absurdos que procuram achincalhar o produtor rural junto à sociedade, mas efetivamente deve ser analisado técnica e racionalmente para resguardarmos aquilo que sem dúvida é legitimo interesse nacional, que é assegurar o equilíbrio entre as necessidades de produção de alimentos e as necessidades de proteção ambiental.

E com relação a reforma do Código Florestal, a sociedade brasileira precisa também saber que é também legitimo o pleito dos produtores rurais, que se analise técnica e racionalmente as exigências relativas a áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal, considerando as dimensões continentais, as diversidades regionais e climáticas do Brasil, o tamanho das propriedades rurais, a quanto tempo as áreas já são usadas para produção agrícola e pecuária, bem como a localização dessas áreas com relação aos grandes centros de consumo.

A sociedade brasileira não pode ser enganada e convencida que os produtores rurais são vilões, bandidos, vigaristas, predadores do meio ambiente por gente que, só por se proclamarem ambientalistas, usam esses argumentos emocionais e absurdos por que não aceitam uma discussão técnica e racional na reforma do Código Florestal, que o próprio ministro do Meio Ambiente já admitiu ser necessária.

O produtor rural não é nem vilão nem herói. É um cidadão brasileiro, que como os demais trabalha para o bem estar e o desenvolvimento de nosso País, e por isso, tal como acontece em outros países, precisa ser respeitado pela sociedade brasileira, a começar pelo ministro do Meio Ambiente.

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Comentários

claudio quadros

Santana do Livramento - Rio Grande do Sul - Produção de gado de corte
postado em 09/06/2009

Caro Sr Marcello de Moura Campos Filho
Achei o seu artigo extremamente bem escrito e concordo plenamente com todos os aspectos nele constantes. A grande questão é esclarecer os 7 entre cada 10 brasileiros, conforme a pesquisa que o senhor citou. Disso precisam ter consciência as entidades que nos representam. Digo mais, precisam partir para a ação, através da utilização dos meios de comunicação, partindo da TV, que está presente em todo o lar dos brasileiros.

Resposta do autor:

Prezado Cláudio Quadros

Agradeço seus comentários.

Você tem razão, precisamos mais ação de nossas entidades junto aos meios de comunicação, sobretudo a TV que está presente na maioria dos lares brasileiros.

Seria muito bom se você e outros produtores gauchos trabalhassem junto a federação de agricultura do estado e outras entidades, no sentido de começarem a fazer as campanhas que precisamos para mostrar para a grande maioria urbana a realidade da produção rural e a importância do produtor rural, seja ele grande, médio ou pequeno para a vida do povo nas cidades.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

Artur Queiroz de Sousa

Cambuquira - Minas Gerais - Produção de café
postado em 09/06/2009

Prezado Marcelo,
Gostei do seu artigo, contudo me preocupa muito o que vamos fazer para mudar a opinião pública a nosso respeito. Existe uma campanha a muito de que o público sobretudo urbano, nos vê, produtores rurais, como jeca tatu, caipira, empregador de escravos, devastador do meio ambiente, produtores latifundiarios, exploração improdutiva, etc. Não vejo campanha mostrando os bons produtores, as coisas feitas corretamente, produção com tecnologia, nada mesmo.

Há muito vejo quando vou aos USA, propaganda mostrando o bigode do leite, produtores de algodão, uva, trigo, em campanha, por ocasião, sobretudo, das votações do congresso, das leis de subsidios. E isso o consumidor americano respeita e muito o produtor rural.

A própria mídia, muito nos desgasta a imagem, quer seja no leite adulterado de algumas cooperativas, no queijo feito com leite informal.

Pense nisso, e estou a disposição para juntos pensarmos numa forma de melhorar a imagem do produtor rural.

Resposta do autor:

Prezado Artur Queiroz de Souza

Agradeço seus comentários.

De fato não é facil mudar a imagem do produtor rural junto a opinião pública, inclusive as campanhas de comunicação exigem muito recurso. mas se não começarmos com certeza continuaremos com a imagem atual que é completamente distorcida com relação à realidade.

É preciso que nós produtores comecemos a pedir ação nesse sentido para as nossas entidades estaduais e à CNA. para fazerem campanhas na mídia e agir junto aos meios de comunicação. Você poderia, junto com outros produtores de Minas, trabalhar junto a FAEMG nesse sentido. Penso que o trabalho terá apoio da CNA, pois a senadora Katia Abreu colocou como sua principal tarefa mudar a imagem do produtor rural junto à sociedade.

É preciso lembrar que campanhas envolvem recursos significativos, mas nossas entidades, além dos recursos arrecadados dos produtores, que não são muitos, podem buscar também recursos da indústria e comércio que trabalham com os produtos de origem agricola e pecuária, que na cadeia produtiva geralmente tem mais recurso por terem margens melhores. Essa campanha para mudar a imagem do nosso produtor rural deve ser do interesse de outros elos da cadeia produtiva, principalmente da nossa indústria.

A sua sugestão de campanha mostrando produtores que fazem as coisas certas, que usam tecnologia, que prerservam o meio ambiente é boa. Penso que poderia aí mostrar também o dia a dia dos produtores para assegurar o alimento nas mesas das familias nas cidades.

Penso que seria muito bom também campanhas mostrando que a maioria dos produtores brasileiros não é constituida de latifundiários e comparando as exigência que se faz à propriedade rural aqui no Brasil em termos de preservação ambiental e reserva legal e o que é feito no resto do mundo.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

ELCIO CARVALHO RODRIGUES

Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Produção de leite
postado em 12/06/2009

Caro Marcello

Não é de hoje que estamos perdendo a guerra da comunicação. A mídia é fartamente alimentada com informações negativas e injustas, eivadas de preconceito ideológico, a respeito do homem do campo, não só pelos chamados movimentos sociais como também por parte da igreja católica. No entanto, não podemos deixar de reconhecer nossos erros. Nossos representantes de classe raramente se posicionam clara e veementemente contra o vergonhoso avanço das madeireiras e da pecuária de corte sobre a floresta amazônica ou sobre a ameaça a áreas sensíveis do Pantanal representada pela monocultura da cana, além de outros absurdos.

Precisamos deixar claro para a população que o produtor rural está firmemente comprometido com a preservação dos biomas, necessitando para isso de apoio técnico e financeiro. Partidários da política de terra arrasada são banqueiros, empreiteiros e grandes empresários urbanos que espertamente se escondem entre nós como lobos em pele de ovelha. A proposta de Remuneração por Serviços Ambientais prestados, contida na PL5367/09 merece aplausos e deve ser viabilizada técnica e financeiramente. A inclusão das Áreas de Preservação Permanente na Reserva Legal é outra ideia justa. Precisamos avançar naquilo que realmente importa e marcar nossas posições com mais clareza.

Resposta do autor:

Prezado Elcio Carvalho Rodrigues

Agradeço os comentários.

De fato precisamos separar o joio do trigo, para mostrar que os grandes estragos na Amazônia, e também no Pantanal tem origem nas cidades. De um lado uma minoria, constituida de grandes empresários urbanos, que investem na produção rural de forma predatória e não sustentável, e o que é pior, com a conivência do Governo através de financiamentos de bancos estatais e acobertamento de atividades ilicitas por funcionários públicos e políticos. De outro lado, os excluidos da atividade urbana pelo fato da economia não conseguir gerar postos de trabalhos nas cidades, e que migram para o meio rural tentando sobrevivder com a agricultura familiar (veja que o Ministério do Meio Ambiente na nova lista dos grandes desmatadores, publicada em 09 de junho passado, excluiu os assentamentos da reforma agrária, que figuravam com principal desmatador na lista publicada em setembro passado - justificando que a lista é para quem vai ser acionado pelo Governo, que não é o caso do INCRA).

As nossas entidades precisam esclarecer isso para a massa urbana e para os nossos governantes, alertando que o grande combate à depredação no meio ambiente ter que ser feita nas cidades e na limitação do crescimento da população, sem o que o nosso planeta estará perdido, é só uma questão de tempo.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

mario sergio de oliveira

biritiba mirim - São Paulo - Produção de leite
postado em 12/06/2009

Parabens, Sr Marcello!

Seu artigo representa voz em um momento que os produtores e trabalhadores do meio rural necessitam de apoio. Apoio que falta de nossos representantes para informar dos riscos que estas atitudes dos que se consideram ambientalistas gerarao a populaçao rural e consequentemente a todo pais de uma maneira direta e irreversivel, trazendo problemas nao so no abastecimento de uma naçao, mas a todo o sistema de vida de uma sociedade que vive do meio rural e que ficara a margem de um abismo, porque serao em muitos casos forçados a abandonar seus meios de vida e partir para situaçoes em que estarão completamente despreparados, gerando problemas sociais enormes.

Abraços!

Mario Sergio de Oliveira

Resposta do autor:

Prezado Mario Sergio de Oliveira

Agradeço os comentários.

O espírito do artigo está contido no seu comentário: é absolutamente necessária e urgente uma reforma do Código Florestal, feita com seriedade e responsabilidade, de forma que o código atenda as necessidades nacionais e o equilibrio entre as necessidades de produção de alimentos e energia e as necessidades de prerservação do meio ambiente.
O Minc me parece inteligente e sabe disso. O que precisa parar é com o "descontrole emocional", que tal como o coletinho que usa, é mais para aparecer, para chamar atenção, mas que não é tolerável quando impede discussão entre as partes envolvidas para resolver a questão e, consequentemente, prejudicando o interesse da sociedade brasileira.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

Régis Alves Moreira

Uberaba - Minas Gerais - Médico Veterinário
postado em 15/06/2009

Prezado Marcello,
Excelente artigo. Concordo plenamente. A população urbana, principalmente os eco-chatos, esquecem que o difamado produtor rural é a figura que poe o arroz e o feijão todo dia em seu prato. É como aquele adesivo: "Voce já se alimentou hoje? Agradeça a um produtor rural." E digo mais: não há atitude mais antiecológica que morar em uma metrópole; poluição, concentração demográfica, congestionamentos, desperdícios de recursos. Por que antes dos ambientalistas soltarem seus gritos de revolta não pensem em como suas próprias atitudes impactam o meio ambiente, em vez de sacrificar o produtor rural, como o sr. disse: um cidadão brasileiro, que como os demais trabalha para o bem estar e o desenvolvimento de nosso País, e por isso, tal como acontece em outros países, precisa ser respeitado pela sociedade brasileira, a começar pelo ministro do Meio Ambiente.

Atenciosamente.
Régis

Resposta do autor:

Prezado Régis Alves Moreira

Agradeço os comentários.

Você está certo, a degradação do meio ambiente tem origem nas cidades, onde vive a grande maioria da população que precisa se alimentar e consome uma barbaridade de energia. E essa população não para de crescer, exigindo cada vez mais alimentos e energia.

Talvez a licença ambiental mais importante seja para ter filhos, uma vez que a capacidade de produzir alimentos e energia no mundo tem limites e a suportabilidade do meio ambiente às agressões também.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

Maristela Neves da Conceição

Miracatu - São Paulo - OUTRA
postado em 18/06/2009

Caro Marcello!

Concordo em grande parte com seus comentários.
Os produtores estão cada dia mais conscientes da importância da preservação ambiental. Porém se hoje são chamados de vilões é porque muito estrago foi feito, sem nenhum critério e, mesmo hoje, pode-se encontrar muitas propriedades onde as áreas de reserva permanente nem de longe são observadas.
Precisamos ir a mídia mudar a imagem do produtor, mas precisamos também conscientizar a todos os produtores que preservar e utilizar a tecnologia de forma correta só trará benefícios.

Concordo que é necessária a revisão do Código Florestal, mas nós, técnicos e produtores rurais, muitas vezes nos omitimos e enquanto estamos ocupados produzindo, deixamos os burocratas tomarem as decisões que deveriam ser nossas. Não sei bem como, mas acredito que só conseguiremos mudar algo se realmente colocarmos o assunto em discussão nos meios urbanos, ou novamente corremos o risco de termos leis aplicadas ao meio rural feito por gente que só pisou em asfalto a vida inteira.

Resposta do autor:

Prezada Maristela Neves da Conceição

Agradeço os comentários.

Na realidade a conscientização da necessidade de preservação do meio ambiente é recente, e não havia no passado recente grande preocupação com áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal. O próprio Governo incentivou no passado desmatamento para combater a febre amarela, a drenagem de várzeas com o programa pró-varzea, a colonização da Amazônia e incusive os assentamentos da reforma agrária figuravam no topo da lista dos maiores desmatadores da Amazônia.

Não pode ser o produtor rural apontado como vilão do desmatamento, que em grande parte tem suas origens nos grandes centros urbanos cuja população cresceu sobremaneira aumentando a demanda por alimentos e energia, e alem de tudo colocar o produtor rural como bode expiratório não contribui em nada para resolvermos o complexo problema de equilibrar as necessidades de produção de alimentos e energia com as necessidades de preservação do meio ambiente, que exige uma discussão sem pre-conceitos, séria, técnica e com bom senso. Você tem razão é preciso que técnicos e produtores rurais participem do estabelecimento da legislação a ser aplicada ao meio rural, pois se for feita só por "gente do asfalto" não conseguiremos o equilibrio que a questão exige.

Abraço

Marcello de Moura Campos Filho

Guilherme Alves de Mello Franco

Juiz de Fora - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 18/06/2009

Prezado Marcello: Não acho que a população, ao acusar o produtor rural de devastar ao meio ambiente, esteja tão equivocada assim. No passado, o que aconteceu foi, realmente, isto - devastação em nome da abertura de áreas de pasto. O que se deve fazer é atualizar estes conceitos, já que, hodiernamente, a consciência da produção está intimamente ligada ao conservadorismo, de sorte que a degradação das áreas vegetais atingiu a níveis inaceitáveis, principalmente, nas áreas semiurbanas.

Não é tarde, portanto, para corrigir este erro e evitar o colapso total, na certeza que o caos já se nota nas alterações climáticas que vêm ocorrendo em todo o planeta. Por lado outro, o aumento da produção não pode e não deve - desculpem-me os colegas que me antecederam nestes comentários - servir de justificativa para a depredação ambiental, eis que é muito possível aliar produtividade com conservadorismo. Finalmente, entendo que a função do Ministério adminstrado pelo Minc não é de apontar culpados, mas sim, fomentar soluções. O Ministro tem que parar de posar como Indiana Jones atrás da perdida arca e passar a colocar seus pés no chão, para apresentar uma política mais eficiente de combate aos crimes ambientais e, principalmente, de punição aos culpados, sejam eles quem forem, ao invés de ocupar a mídia com suas fanfarronices e palavras impensadas, se quiser construir alguma coisa.

Nós, os produtores, temos, também, que fazer nossa parte, para podermos, no futuro mais próximo, viver em um mundo melhor.

Parabéns por mais este bem colocado alerta.

Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

Resposta do autor:

Prezado Guilherme Alves de Melo Franco

Agradeço os comentários.

É evidente que o produtor rural desmatou para plantar e criar animais, mas penso que o produtor rural apontado como vilão do desmatamento, que em grande parte tem suas origens nos grandes centros urbanos, cuja população cresceu sobremaneira aumentando a demanda por alimentos e energia, e é preciso lembrar que a conscientização da necessidade de preservação do meio ambiente é recente, e não havia no passado recente grande preocupação com áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal. O próprio Governo incentivou no passado desmatamento para combater a febre amarela, a drenagem de várzeas com o programa pró-varzea, a colonização da Amazônia e inclusive os assentamentos da reforma agrária figuravam em lista publicada pelo INCRA no topo da lista dos maiores desmatadores da Amazônia.

O que precisamos para corrigir os êrros do passado não é apontar "bodes expiatórios", mas fazer uma analise séria das circunstancias que levaram a esses êrros, não repetir os êrros do passado, e podermos resolver o complexo problema de equilibrar as necessidades de produção de alimentos e energia com as necessidades de preservação do meio ambiente.

Concordo que não é tarde para corrigir êrros do passado e que o aumento da produção rural devr ser usado como justificativa para o desmatamento, que a área hoje disponível para agricultura e pecuária, sem derrubar nenhuma árvore a mais, pode atender o crescimento das nossas necessidades de alimento e energia por muitos anos, colaborar no atendimento dessas necessidades em outros paises. Mas é exatamente por isso que penso precisamos fazer alterações num Código Florestal de 1965, aliás, o que o próprio Minc admitiu.

Por isso como você disse muito bem não é função do Minc, e eu acrescento de ninguem que seja bem intecionado, apontar culpados mas sim colaborar para que encontremos as soluções para que possamos ter, como todos os brasileiros desejam, uma legislação que contemple o equilibrio entre as necessidades de produção alimentos e energia com as necessidades de preservação do meio ambiente.

Grande Abraço
Maecello de Moura Campos Filho

L. Ferreira de Aguiar

Patrocínio - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 20/06/2009

Sr. Marcelo.

Parabéns por essa brilhante análise do momento que vivem os proprietários de terras brasileiras. Acho que é esse o pensamento da maioria dos proprietários rurais desse país.

Para se fazer uma análise mais profunda desse assunto teríamos que caminhar por caminhos delicados do atual momento da vida política brasileira. O que ficou bem claro é que o empresário rural, normalmente um cidadão que vive na cidade (não gosto da expressão cidadão urbano ou rural, somos todos cidadãos brasileiros), tem menos respeito ao meio ambiente do que o tradicional fazendeiro.
Os empresários rurais não admitem plantar numa área que tenha qualquer quantidade de árvores mesmo quando se quer arrendar terras para a recuperação de pastagens, a primeira exigência é que se desmate toda área, alegam que árvores são obstáculos ao uso de máquinas e também usam agrotóxicos indiscriminadamente.

Quanto ao produtor de leite, esse já não tem mais paciência de esperar por uma definição das reformas do Código Florestal. Estamos vivendo um momento difícil de recuperação de preços do leite, os consumidores já estão reclamando dos altos preços pagos nos supermercados, e o produtor continua a receber o valor ridículo de R$ 0,70 por litro e o consumidor já esta pagando até R$ 2,90. Quem está ganhando dinheiro não é o produtor, mas esse leva a culpa e é considerado vilão pelo consumidor. Falta informação ao consumidor e sobra incompetência aos órgãos representativos da classe rural. O governo com seu gosto pelo exótico, não inspira confiança no fazendeiro que continua a ser conservador e honesto. Nem vilão nem herói, trabalhador brasileiro com muito orgulho.

Lucas F. de Aguiar

wilson tarciso giembinsky

Paracatu - Minas Gerais - Produção de gado de corte
postado em 23/06/2009

Marcello é exatamente o que escreveu, parabéns!

O consumidor esquece que são as demandas urbanas que geram tudo que acontece no campo, que o campo gera o alimento nosso de cada dia, que sem ele não vivemos ...

Não só o alimento, mas tudo que usamos na cidade tem alguma coisa que saiu do campo na sua raiz, no seu processo de fabricação. Do carvão para fabricar o aço dos talheres, dos carros, dos edifícios, ao algodão da roupa de cama macia, do cristal dos copos, das TVs de LCD, à cevada da cerveja, à uva do champanhe, à borracha dos pneus, os móveis bonitos e confortáveis, o alcool dos carros, o açucar e o cafezinho.

São estas demandas que geram os desmatamentos, não há como supri-las sem desmatar. Temos que controlar a natalidade urgente!

Por que só os produtores tem que arcar com o ônus da preservação?!

Nos confiscaram no mínimo 30% das propriedades (APPs+RL) e da nossa renda, por que não podem os "urbanos", que só poluem sem preservar, nos pagar pela preservação?

Podemos calcular 20% da área urbana de cada cidade, verificar seu valor de mercado médio, dividir por seus proprietários, taxá-los e distribuir aos produtores rurais, mas o coitado lá da periferia vai pagar caro por isto.....

Pode ser 20% do valor de mercado de cada imóvel... (já pensou o Minc pagando 20% do valor comercial do seu apartamento!?) e repassar ao produtor rural que foi confiscado em 30.. 35%.... da propriedade.

Além do confisco da propriedade confiscaram também a renda dos produtores ao proibir a produção nas APPs e RLs!

Isto seria confisco urbano? Não, de modo algum. seria parceria.

Os urbanos, (eu também sou) não perderão nada da propriedade urbana, ela não vai diminuir de tamanho.
Não vai diminuir o aluguél da casa, do apartamento, o faturamento do comércio ou da industria, não vão mexer na renda das propriedades urbanas nem nos salários dos urbanos...

E niguém vai para a cadeia ou é multado por dar descarga e jogar aquela merda toda nos rios como acontece com o produtor rural! Nem por construir mansões nas APPs do lago Paranoá, do Tietê, do Pinheiros, do Arruda....

Nós, produtores rurais, fomos confiscados, perdemos parte da propriedade, mais toda a renda presente e futura das APPs e RLs, por toda nossa vida e de nossos descendentes. Além de termos que arcar com o ônus econômico e criminal de cuidar dela. Aqui em Minas há produtor em sursi por isto.

Estamos cuidando e preservando para todos, com nosso bolso. Alguém precisa nos pagar por isto!

Na Europa o produtor rural é subsidiado pela produção e ainda recebe pela preservação ambiental. Aqui somos vilões!

Para ter alimento lá na cidade, churrasco, alcool, cerveja, carro, sofa, algodão, feijão e seda alguém tem que plantar.

Logo, se você se alimentou hoje agradeça a Deus, porque aqui em se plantando tudo dá e agradeça também ao produtor rural que plantou para dar.

Wilson, produtor preservacionista com meu bolso

Resposta do autor:

Prezado Wilson Tarciso Giembinsky

Agradeço seus comentários, que complementam a idéia do artigo, de que o produtor rural não pode ser colocado no papel de vilão e responsabilizado por desmatamento, que na realidade é consequência de atender ao consumo de uma população cada vez maior e mais esbanjadora que se concentra nas áreas urbanas, e que não para de crescer.

Se não para esse crescimento da população (em 30 anos passaremos de 6 para 9 bilhões de habitantes na terra), temo que, apesar do esforço das pessoas bem intecionadas no campo e nas cidades, não conseguiremos equilibrar as necessidades de alimentos e energia da sociedade com a necessidade de preservação ambiental, o futuro do homem e do meio ambiente poderá ser lamentável.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

Marcello de Moura Campos Filho

Campinas - São Paulo - Produção de leite
postado em 29/06/2009

Prezado Lucas F. Aguiar

Agradeço os comentários.

Você tem razão quando fala da falta de informação do consumidor, da incompetência de entidades representativas da classe rural e do alienamento do Governo com relação a muitos dos problemas da agropecuária. Eu penso que se há falta de informação do consumidor e alienamento do Governo dos problemas rurais são decorrência da falta da competência das entidades de representação dos produtores.

A falta de informação do consumidor e o alienamento do Governo dos problemas rurais é obviamente decorrente da falta de competência dos representantes dos produtoes rurais. Mas de onde vem essa falta de competência dos representantes dos produtores rurais?

De um lado das próprias lideranças rurais, que muitas vezes, cegas pela vaidade e por puxa sacos que as rodeiam, não vêem a realidade como ela é, mas como gostariam que ela fosse, e por isso não conseguem resolver os legitimos interesses de seus representados. Isso só mudara quando as lideranças calçarem as sandalias da humildade e passarerm realmente a ouvir os produtores rurais.

Mas por lado a falta de competência das lideranças rurais decorre da omissão e alienamento dos produtores com relação às suas entidades de representração, deixando na mãos de uns poucos a solução de seus problemas sem parem das discussões para solução de seus problemas.

Não adianta discutir quem é mais culpado, seria como discutir quem surgiu primeiro, o ôvo ou a galinha. O importante é que a analise circunstancial dos fatos mostra claramente as origens dessa incompetência, e às pessoas bem intencionadas dos dois lados, produtores e dirigentes, mudarem sua postura e trabalharem para que a classe rural possa ter uma representação competende.

Vamos ver o caso do leite, que você reclama que o produtor recebe ruidiculos R$ 0,70 enquanto o consumidor chega a pagar R$ 2,90 por um litro de leite. É notório que na cadeia perodutiva as entidades de representação de produtores tem dificuldades para mobilizar produtores para uma ação política e como são limitadas em termos de poder econômico com relação as representações como as da indústria e do comércio. Os trancos e barrancos que ao longo dos anos atingem o agronegócio do leite brasileiro, principalmente a pecuária de leite, evidenciam que falta política e planejamento adequado ao setor. Não seria bom para a pecuária leiteira nacional que tivessemos om organismo permanente, onde representantes dos produtores, da indústria e do comércio, sob coordenação e mediação de representante da Secretaria de Política Agrícola do MAPA, realizariam analises, estudos e discussões, propondo uma política e planejamento para o setor leiteiro, evitando os trancos e barrancos e garantido o crescimento sustentavel de todos os elos da cadeia produtiva?

A muitos anos, desde a criação Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados do MAPA, que defendo essa proposta, mas não consegui até hoje, apesar de todas as evidências das falhas da política e planejamento do setor leiteiro, sensibilizar os membros dessa Câmara do benefício que traria ao setor a aprovação de uma proposta nessa linha. Mas para mim o mais surpreendente foi não sensibilisar representantes de outras enbtidades de produtores a defenderem essa proposta, ou pelo menos discutirem em profundidade a proposta, dando a entender que estavam satisfeito com a politica e planejamento de setor leiteiro.

Gostaria de ver é muitos produtores e suas lideranças discutindo essa proposta, de forma que ficasse claro para todos se nossas entidades deveriam lutar juntas para implantar uma proposta nessa linha, ou apresentassem proposta diferente que entendessem ser melhor, ou esclarecessem que acham que do jeito que está está bom e justificasse por que não é necessário mudanças em termos do estabelecimento da política e planejamento do setor leiteiro.

Se chegar a ver isso, acreditarei que produtores e lideranças estarão trabalhando efetivamente para que nossas entidades de representação tenham a competência necessária para defender os legitimos interesses do produtor rural, que não será mais visto como vilão, mas respeitado pela sociedade pelo trabalho sério e dedicado que faz em benefício de todos os brasileiros.

Abraço
Marcello de Moura Campos Filho

luciano di carlo botelho dias

Ouro Preto do Oeste - Rondônia - Produção de leite
postado em 04/07/2009

Sr. marcello, acredito sim que a maioria das pessoas em nosso pais critica o produtor em ser ganancioso, por querer sempre expandir suas area, mas a maioria dos produtores em nosso pais tem como objetivo a melhoria da produção. E a questão que muitos acham que aumento de preço tem alguma coisa a ver com nós produtores está enganado, nós não somos dono de nossos produtos, quem estabelece preços é a industria, sofremos muito com isso, principalmente os produtores de leite, que ao fim do mes não sabem quanto irão receber por litro prodizido.

A produção tem que caminhar junto com a preservação, temos sim que conservar nossas reservas, proteger nossas nascentes, assim poderemos produzir e preservar agradando a todos.

A forma em que o ministro do meio ambiente olha os produtores do nosso Brasil é muito humilhante, ele nos ve como bandidos, como fora da lei, e não e bem assim, se desmatamos a 20 ou 30 anos a tras é por que tivemos incentivo do governo daquela epoca, se muitos estravazaram e desmataram acima do limite foi culpa do proprio governo que não fiscalizou, assim gostaria que nossos governantes nos visem como pessoas que ajudaram no desenvolvimento desse pais.

Essa nova lei ambiental e equivocada; se formos seguir essa meta, o Brasil vai afundar, não seriamos capazes de produzir alimentos nem para sustentar nossa população, 50% de preservação mais as nascentes e demais, sou de acordo em preservarmos as nascentes as matas ciliares e 20% das matas nativas.

E para finalizar acho que o produtor rural é um heroi sim, que so por aguentar toda essa pressão do mundo em cima, e passar por tantas crises e ainda ter forças para querer melhorar cada vez mais. É sim um heroi de ferro.

Paulo Luís Gonçalves Campelo

Belo Horizonte - Minas Gerais - Consultoria/extensão rural
postado em 31/07/2009

Prezado Marcelo, você foi extremamente feliz com as suas colocações nesse artigo, o qual considero uma "pérola" e que, por isso, deveria ser leitura obrigatória de todos os Brasileiros.

Nossos políticos deveriam estar mais preocupados com a educação dos jovens do meio urbano, ao invés de apedrejarem o homem do campo. A falta de educação dos nossos jovens irá refletir em um impacto muito maior que a devastação das Florestas, enquanto o Sr. Carlos Minc está preocupado com desmatamento lá na Amazônia, com medo do aquecimento Global, nas grandes cidades a chapa já está fervendo a muitos anos.

A sobrevivência do ser humano nesse planeta será inviabilizada pela falta de investimentos em educação, o que gera violência, muito antes de ser invibializada pelo aquecimento Global, o qual é provocado pelo uso de combustíveis fósseis, e não pela derrubada de árvores.

Um abraço.

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