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Ivan Saul comenta sobre produção de cordeiros e custos

postado em 09/11/2010

4 comentários
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O produtor de ovinos e proprietário da Granja Po'A Porã, Ivan Saul, de São José dos Pinhais, Paraná, enviou um comentário ao artigo "Idade de desmame. Confira a opinião dos produtores". Abaixo leia a carta na íntegra.

"Caro Hildegardo Santos Araújo e demais colegas do FarmPoint.

O rebanho da Granja Po'A Porã, pelas condições relacionadas à terra (tais como, área, tipo de solo, pastagens) e pelas condições mercadológicas da ovinocultura (principalmente em região metropolitana, onde os preços acompanham humores de mercado diferenciados), ainda é muito limitado em tamanho. Ou seja, muito pequeno para permitir que trabalhemos em pesquisa científica que possa ser validada pela prática em outras criações, embora este seja um dos nossos principais objetivos - estudar a viabilidade da atividade dentro do nicho em que está inserida. Entenda-se "nicho" como localização geográfica, condição econômica e financeira, tamanho da propriedade e do rebanho, etc..

Então, necessito deixar claro que esta é somente uma "opinião pessoal", baseada em experiência própria, que não deve ser interpretada como "recomendação" proveniente de conclusões obtidas em pesquisa científica metodologicamente correta e independente. Metodologicamente correta ao não estar chamuscada pela fogueira das vaidades dos pesquisadores, nem contaminada pelas exigências governamentais de produtividade dos cientistas do serviço público (que resultam em quantidade às custas da qualidade, muitas das vezes). Independente por não representar os interesses de um criador ou associação de raça. Por exemplo: É sabido por todo criador, ou deveria ser, que entre os reprodutores de cada raça especializada (lã, carne ou leite) ocorrem discrepâncias maiores do que entre reprodutores de raças diferentes. Ou seja, boas progênies só são obtidas de bons pais e "carneiro ruim tem em qualquer raça".

Em relação, especificamente, às considerações solicitadas por ti, prezado colega Hildegardo, que de forma alguma me causariam incômodo. Acredito que não haja "resposta definitiva" para a questão, que é tua e de todos nós. Quanto custa produzir um cordeiro? Que resultado esperar da atividade?

Considerando que todas as regras mercadológicas (Produzir o que? Para quem? ... ) tenham sido estudadas e atendidas, vamos, em primeiro lugar, definir nosso "produto":

- Exatamente o que é cordeiro? Pois é um conceito que sofre a influência das "Regulamentações para Qualidade de Carne" de cada país ou região produtora. Existem cordeiros de 30 Kg com 90 dias e outros de 30 Kg com 1 ano (ainda é dente de leite, portanto cordeiro), que fornecem carcaças muito semelhantes com custos de produção completamente distintos. Note-se que é raro o interesse do "nosso mercado" em estabelecer essa definição tanto ao nível do produtor quanto do consumidor.

- Definido o cordeiro com um animal de determinada faixa de idade, peso e rendimento de carcaça, cobertura de gordura, etc., e o mercado ideal para este "cordeiro"; pode ser feito o planejamento dos custos de produção. "Tendo em conta a raça e seu potencial de ganho de peso, sob as condições que o empresário/empreendimento pode oferecer."

- Quanto à raças, é bom lembrar que é muito comum na Austrália e Nova Zelândia, a utilização de matrizes da raça Corriedale (sintética de duplo propósito) sob carneiros de raças pesadas (de cara branca e lanudos) para obtenção de "cordeiros de abate - criados à campo". Dois motivos fundamentais para tal procedimento: (1) não existe interesse do produtor em obter cordeiros grandes e pesados antes que tenham idade para serem tosquiados e (2) a lã é responsável por uns 30% do valor total alcançado pelo cordeiro, elevando o rendimento por hectare da propriedade sem aumentar o número de animais. Este é um procedimento tradicionalmente adotado por vários ovinocultores do RS, utilizando carneiros Texel ou Ile de France (raças com ancestrais amerinados) sobre ovelhas de descarte - para produzir o "borregão". E causa do, internacionalmente, reduzido número de criatórios especializados nos grandes e pesados caras negras, Suffolk e Hampshire Down, que poderiam introduzir fibras meduladas ou negras, desvalorizando os velos da progênie, e impedindo a utilização das fêmeas resultantes em uma possível retenção de matrizes.

Fica evidente, com estas tantas alternativas de produto e produção, que "propuseste um tema árduo" para a nossa conversa. O correto seria estabelecer um "centro de custos por produto". Ao vender somente cordeiros, estes são "o produto" que deve responder por todos os custos do empreendimento e gerar dividendos. Daí a necessidade de diversificação na propriedade, pois ao diluir alguns custos entre as diferentes atividades, se aumenta sua rentabilidade individual (pastagens compartilhadas com bovinos são um bom exemplo). A manutenção das matrizes deve ser debitada na conta dos seus filhos. Mesmo que toda alimentação seja produzida "em casa", deve ser contabilizada aos preços de mercado, e a mão de obra familiar, ainda que não remunerada, deve ser contabilizada igualmente. Tudo na conta do "cordeiro".

Como se pode observar, o pobre do cordeiro ter que pagar a conta sozinho é injusto, assim necessitamos de alternativas de mercado para que as "ovelhas de descarte" - "consumo" diziam alguns - paguem a própria conta (hoje, se o frigorífico não quer, só resta a clandestinidade à preços extorsivos). As "borregas de reposição" poderão ser rentáveis à partir da especialização, quando os produtores de "cordeiros de abate" preferirem comprar fêmeas (de raça ou F1) e puderem vender seus produtos para terminadores. Enquanto insistirmos em fazer "ciclo completo" com raças puras, necessitaremos dominar a execução de 3 ou 4 elos da cadeia produtiva e "capital de giro" para aguentar o ano inteiro sem vender nada.

Em agropecuária, se levarmos em consideração toda essa coisa econômica de remuneração do capital investido (incluindo o imóvel), periga dar vontade de vender tudo e investir numa franquia de "fast-food". (Antes saibam, pelo que me disseram tempos atrás, a estimativa de início do retorno do investimento anda em torno de 10 anos.)

Concluindo, meus nobres colegas, arrisco dizer que, na verdade, "nós não queremos saber o que vale um cordeiro" e que, se os cientistas o sabem, é melhor que não nos contem!

Saudações ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M., M.Sc.Vet. - Granja Po'A Porã, 07/nov/2010.
"

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Comentários

Marcos Vinicius Grein

Balsas - Maranhão - Consultoria/extensão rural
postado em 30/11/2010

Por mais conta que eu faça e seja até simpático à atividade desprezando alguns custos que são lançados na conta de rateio "propriedade", não consegui até agora sustentabilidade econômica da atividade vista de uma forma isolada. Agora, a satisfação de fazer um churrasco de cordeiro produzido por você mesmo é inigualável. Concordo plenamente com seu artigo.

Ivan Saul

São José dos Pinhais - Paraná - Produção de ovinos
postado em 02/12/2010

Prezado Marcos Vinicius Grein e colegas de FarmPoint.

Saibam que este artigo trata de um tema bem conhecido por aqueles de nós que estão "mais maduraços", é a psicologia que nossos velhos usaram na nossa educação:

"- Faz o que eu digo, não faz o que eu faço!"

Não tenho a pretensão de educar pelo exemplo, afinal, sou simplesmente, um criador de ovelhas e contabilidade é para os contadores! Quem gosta de ovelha fica meio cego aos seus defeitos. É isso aí, descarrega nas outras atividades...

Um assado dos próprios cordeiros, não tem cartão de crédito que pague!

Grato pela manifestação! Um abraço e às ordens por aqui. Ivan

Saudações ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M., M.Sc.Vet. - Granja Po´A Porã, 02/dez/2010.

Natalino Rasquinho - Zootecnista UNEAL

Nova Odessa - São Paulo - Mestre em Produção Animal Sustentável - IZ
postado em 05/12/2010

Parabéns por descrever situações tão importantes.

Caro Ivan, com bom senso fica fácil interpretar tudo o que foi relatado por você, entretanto, alguns julgam ser "receita de bolo", o que gera grande desconforto financeiro para todo o sistema de produção. É evidente que o ditado "faça o que eu digo, não faça o que eu faço" está inserido em várias situações, e neste caso pode ser visto como um aviso para aqueles que ainda acreditam que certas práticas utilizadas numa propriedade possam ser bem vindas em outras. É importante saber que alguns animais pode não ter o mesmo rendimento e que algumas variedades de forragem pode não ter uma boa produtividade devida às condições edafoclimáticas, e boa aceitação pelos animais, entre outras situações. Ou seja, cada região, cada propriedade e cada sistema de criação são únicos.

Se me permite e aproveitando o espaço, sabemos que o Brasil ainda não tem o hábito de consumir carne de ovinos (700g/hab/ano) se comparado com a de bovino (34kg/hab/ano), porém, sempre esperamos por melhorias na cadeia produtiva com conseqüente aumento de consumo. Entretanto, é necessário investir em frigoríficos e padronizar os cortes, além de maior divulgação do produto. Infelizmente todo o marketing empregado na produção de ovinos e caprinos está restrito aos consumidores, sendo divulgadas principalmente em revistas e sites especializados. Acredito que falta mais apoio da iniciativa privada, quero dizer que, os supermercados vêem a carne ovina como "exótica", conseqüentemente o preço também se torna exótico. É uma atitude que necessita de mudança, porque oferecer uma carne de qualidade (suculenta, macia e com boa aparência) que atenda as exigências do consumidor, os criadores já sabem fazer. É claro que as pesquisas sempre evidenciam e disponibilizam novas tecnologias para incrementar o sistema de produção.

Ivan Saul

São José dos Pinhais - Paraná - Produção de ovinos
postado em 07/12/2010

Prezado Dr. Natalino Rasquinho.

Agradeço sua manifestação e, como talvez o senhor não tenha tido oportunidade de ler meus artigos e postagens anteriores, reitero minha intenção de escrever para os novos criadores que necessitam de informação imparcial de onde possam extrair suas próprias conclusões. Acrescento que a receita de bolo que forneci neste artigo, foi dada à pedido do colega Hildegardo, mesmo imaginando que não era exatamente isso que ele questionava. E, justamente por esta razão foram várias as receitas, de maneira que, como novo criador, nosso colega tivesse as linhas gerais do processo administrativo e exemplos das diversas formas de produção de cordeiros existentes e praticadas pelo mundo afora.

Em minha resposta ao colega Grein, faço questão de deixar claro que me incluo, na prática, entre aqueles produtores que fazem vistas grossas à possível falta de liquidez financeira da atividade, que sempre está associada à relação entre o tamanho do investimento feito e a remuneração obtida. Assim sendo, este artigo trata de "fazer o que eu digo e não o que eu faço".

Voltando à "receita de bolo", corro o risco de estragar a sua receita, mas necessito dizer que se a solução para o problema de rentabilidade da ovinocultura passasse exclusivamente por resultados científicos, ações de ´marketing´, incremento da capacidade de abate e padronização de cortes, já não teríamos problemas. E hábito de consumo não é consequência direta de nenhuma destas ações.

Voltarei ao tema "hábito de consumo", oportunamente, e teremos a chance de esclarecer melhor nossos pontos de vista.

Sucesso nas suas atividades, Ivan.

Saudações ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M., M.Sc.Vet. - Granja Po´A Porã, 07/dez/2010.

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