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A carne ovina e o abate clandestino: é possível calcular o tamanho da informalidade?

Por Andre Sorio e Lucas Rasi Cunha Leite
postado em 16/02/2011

27 comentários
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No Brasil, a informalidade na produção de carne ovina está presente em todos os elos da cadeia produtiva - na produção primária, no abate, no processamento da carcaça e no comércio varejista.

No varejo, significa sonegação ao fisco e aquisição de produtos sem inspeção sanitária. Na indústria, ela implica vários agravantes: aquisição de animais doentes, ausência de inspeção sanitária durante o abate, transporte inadequado quanto aos padrões de embalagem e de refrigeração do produto, e, por fim, sonegação ao fisco. Já nas propriedades rurais, a informalidade ocorre na ausência de inspeção sanitária no momento do abate, sonegação ao fisco e falta de comunicação da movimentação de animais aos órgãos de defesa sanitária.

A fiscalização do abate clandestino foi apontada por especialistas, empresários e formadores de opinião como o fator sistêmico mais relevante para a cadeia da ovinocultura em pesquisa nacional realizada por Costa (2007). No entanto, o abate clandestino tornou-se um hábito arraigado, que acaba prejudicando a expansão e a competitividade da cadeia produtiva brasileira.

Segundo Holanda Junior et al (2003), a má qualidade da carne ovina consumida no Brasil é decorrente do baixo nível de higiene nas operações de abate. Além disso, a precariedade da inspeção sanitária estende-se ao local de venda, colocando em risco a saúde da população.

Silva (2002), afirma que o abate clandestino é um fator limitante à melhoria das relações contratuais entre a indústria e o varejo, já que ainda não resulta em marcas consolidadas nem em garantia sanitária ao consumidor. A principal consequência desse fato é uma pressão baixista dos preços e uma redução na margem de lucro dos frigoríficos.

Este artigo tem o objetivo de trazer informações a respeito da dimensão da informalidade nos abates de ovinos do Brasil, comparando os dados do Serviço de Inspeção Sanitária Federal (SIF) com outras informações oficiais disponíveis.

Dimensão do abate clandestino

É preciso registrar que, em algumas regiões do País, o abate clandestino está diretamente ligado ao roubo de animais nas propriedades, principalmente no Rio Grande do Sul. Silveira (2005) estima que 60% do abate de ovinos do Rio Grande do Sul ocorre de forma ilegal. Sorio et al. (2008b) chegaram à conclusão de que cerca de 70% do rebanho de Mato Grosso do Sul é abatido e comercializado sem inspeção sanitária. No Distrito Federal, Araújo e Medeiros (2003) estimam que 90% dos abatedouros de ovinos não são legalizados.

Em pesquisa com ovinocultores do Estado de São Paulo, Souza et al. (2008) encontraram 55% dos produtores realizando abate clandestino como forma de escoamento da produção. Carvalho e Souza (2007) afirmam que 100% do abate da cidade de Garanhuns (PE) é clandestino e que as autoridades de vigilância do município atuantes no varejo não se preocupam com a procedência dos animais. Em Minas Gerais, 46% dos produtores abatem ovinos nas propriedades, sem inspeção sanitária, conforme Sebrae (2004).

Em Campo Grande (MS), Sorio et al. (2008b) encontraram 22,2% dos estabelecimentos varejistas da área central da cidade vendendo carne ovina oriunda do abate clandestino. Os cortes são vendidos cerca de 14% mais baratos do que nos locais onde a carne provém de locais com inspeção sanitária no abate.

Silveira (2005) afirma que um dos maiores gargalos que atravancam o desenvolvimento da cadeia produtiva da ovinocultura de corte é a falta de fiscalização nos locais de abate. O grande número de abates clandestinos realizados e a consequente venda de carcaças de modo informal diminuem a competitividade da cadeia.

O sacrifício de fêmeas chega a 58% do total abatido em alguns frigorífico inspecionados, segundo Sorio et al. (2008a). Afirmam os autores que parece ser o abate clandestino de cordeiros a principal causa disso, pois os produtores vendem os melhores animais diretamente ao consumidor e entregam ao frigorífico os animais geralmente rejeitados pelo comércio. Para comparação, segundo Bianchi (2007), no Uruguai, o abate de fêmeas em frigoríficos mal alcança 17%.

Apesar de algumas diminuições, o abate inspecionado de ovinos no Brasil vem apresentando tendência de aumento nos últimos anos, como pode ser visto na Tabela 1.

O abate com inspeção federal passou de 79 mil cabeças em 2003 para 320 mil cabeças em 2010. O Rio Grande do Sul representa mais de 80% deste total. Os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, apesar de seu pequeno rebanho relativo, são os outros locais onde existe maior abate inspecionado.

Chama a atenção o fato de o Nordeste do Brasil apresentar baixíssima participação no abate com inspeção federal. A Bahia - 2º maior rebanho do país, por exemplo, depois de anos avançando na oficialização do abate, desde 2009 vem apresentando resultados cada vez menores.

Tabela 1 - Evolução dos abates de ovinos com inspeção federal, no período de 2003 a 2010 (em milhares de cabeças).



Pelos dados da Tabela 1, o abate com inspeção federal alcançou em 2009 algo em torno de 4,8 mil toneladas anuais. Mas informações divulgadas pela FAO (2011) e pelo IBGE (2011a) mostram que, no período de 1990 a 2009, a produção de carne ovina brasileira oscilou em torno de 80 mil toneladas, apesar de o rebanho brasileiro ter diminuído 40% neste período, em virtude da redução do efetivo no Rio Grande do Sul, que, ainda assim, continua ostentando o maior rebanho nacional.

Ao mesmo tempo, dados do censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2011b), registraram 3,42 milhões de ovinos abatidos, entre os destinados ao consumo nas propriedades e à venda. A Tabela 2 especifica o abate declarado em cada estado.

Tabela 2 - Estimativa de abate de ovinos e sua relação com o abate com inspeção federal no Brasil, em 2006 (em milhares de cabeças).



Sendo assim, apesar do avanço nos últimos anos, o abate com inspeção federal em 2006 foi de somente 6,7% do total declarado pelos produtores, com maior significância nos rebanhos de Goiás, do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso do Sul, como pode ser visto na Tabela 2.

Não existem dados consolidados a respeito de abate de ovinos com inspeção estadual e municipal, já que os órgãos responsáveis por essas informações nos estados não costumam divulgá-las, apesar da exigência de emissão de Guia de Trânsito de Animais (GTA), determinada por legislação nacional, desde 2004. A cadeia produtiva da ovinocultura não pode contar, pois, com dados estaduais oficiais confiáveis sobre a atividade, o que acaba por favorecer o abate clandestino.

Para deixar bem claro, nos Estados que mais recorrem à inspeção federal, os órgãos públicos responsáveis pela emissão de GTAs e pela fiscalização do abate clandestino são os seguintes: no Rio Grande do Sul, a Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal (DFDSA); na Bahia, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab); em Mato Grosso do Sul, a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro); em São Paulo, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA); e em Goiás, a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). Em nenhum desses órgãos é possível conseguir informações a respeito de emissão de GTAs e de abate de ovinos, o que demonstra o desinteresse oficial, generalizado, pelo tema, mesmo nos Estados onde a ovinocultura tem maior peso econômico, como o Rio Grande do Sul e a Bahia.

De qualquer forma, a quantidade de abate com inspeção estadual e municipal não deve superar o abate com inspeção federal. Sendo assim, pode-se afirmar que a informalidade atinge cerca de 90% do mercado nacional de carne ovina, contribuindo para que os índices de capacidade ociosa das empresas legalizadas se mantenham elevados e para a manutenção da baixa arrecadação do setor.

Considerações finais

Um costume, já bastante arraigado nas cidades brasileiras, é o consumo de carne oriunda do abate clandestino. O hábito de presentear amigos com carne ovina da fazenda e de consumir esse tipo de carne em eventos festivos, o domínio da técnica de abate pelas populações rurais e a crença, entre os consumidores, de que a carne vinda diretamente do produtor é de melhor qualidade, têm favorecido o mercado informal e afetado a competitividade da cadeia produtiva da carne ovina no Brasil.

Mas é bom lembrar que o abate clandestino é, muitas vezes, a única forma que os produtores têm para garantir o escoamento da produção e o abastecimento das cidades. No entanto, para dar o salto de competitividade que irá permitir que a carne ovina se torne efetivamente parte da dieta da população brasileira é fundamental que sejam encontradas formas de diminuir a informalidade no abate, alavancando o surgimento e/ou a manutenção de indústrias frigoríficas em todo o País.

Sem a legalização do abate e o consequente recolhimento de impostos, o setor nunca conseguirá demonstrar sua importância para a economia nacional, ficando sempre à margem do planejamento de políticas públicas e dos benefícios de verbas oficiais de fomento.

Referências bibliográficas

BANKUTI, F. I.; SOUZA FILHO, H. M. S. A informalidade em sistemas agroindustriais: os casos dos sistemas agroindustriais da carne bovina e do leite. In: ZUIN, L. F. S.; QUEIROZ, T. R. (Org.). Agronegócios: gestão e inovação. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 58-90.

BIANCHI, G. Alternativas tecnológicas para la producción de carne ovina de calidad en sistemas pastoriles. Montevideo, UY: Hemisfério Sur, 2007. 283 p.

CARVALHO, D. M.; SOUZA, J. P. Análise da cadeia produtiva da caprino-ovinocultura em Garanhuns. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
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COSTA, N. G. A cadeia produtiva da carne ovina no Brasil rumo às novas formas de organização da produção. 2007. 182 f. Dissertação (Mestrado em Agronegócios) - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations Livestock primary. Disponível em: . Acesso em: 12 fev. 2011.

HOLANDA JUNIOR, E. V.; SÁ, J. L.; ARAÚJO, G. G. L. Articulação dos segmentos da cadeia produtiva de caprinos e ovinos: os fluxos alternativos de comercialização In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE OVINOS E CAPRINOS, 2003, João Pessoa. Anais... João Pessoa: Emepa, 2003. p. 83-94.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Efetivo dos rebanhos por tipo de rebanho. Disponível em: . Acesso em: 14 fev. 2011.a

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 2006. Disponível em: . Acesso em: 14 fev. 2011.b

SEBRAE. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Análise da ovinocaprinocultura no norte e nordeste de Minas Gerais. Belo Horizonte: Sebrae, 2004. 127 p.

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SILVA, R. R. O agronegócio brasileiro da carne caprina e ovina. Salvador: Edição do Autor, 2002. 111 p.

SILVEIRA, H. S. Coordenação na cadeia produtiva da ovinocultura: o caso do conselho regulador Herval Premium. 2005. 104 p. Dissertação (Mestrado em Agronegócios) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

SORIO, A.; ALBUQUERQUE, G. S.; BAKARJI, E. W. B.; PEIXOTO, F. L.; NOGUEIRA, L. M. L.; MARTINS, C. F.; MONREAL, A. C. D. Perfil das categorias ovinas abatidas
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SORIO, A.; FAGUNDES, M. B. B.; RASI, L. Oferta de carne ovina no varejo de Campo Grande (MS): uma abordagem de marketing. Revista Agrarian, Dourados, v. 1, n. 1, p. 145-456, 2008b.

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SOUZA, F. A. A.; LOPES, M. A.; DEMEU, F. A. Panorama da ovinocultura no estado de São Paulo. Revista Ceres, Viçosa, v. 55, n. 5, 2008.

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Comentários

Selym Leime Filho

São José dos Campos - São Paulo - OUTRA
postado em 16/02/2011

Será um dos maiores fomentos da Ovinocultura no Brasil o combate aos abates clandestinos bem como a sua comercialização. Sem contar o que será arrecadado de impostos e geração de empregos. Vale lembrar que nem sempre é possivel esta pratica, mas também não é aceitavel que no estado com a maior produção o abate clandestino é estimado em 60%. "Silveira (2005) estima que 60% do abate de ovinos do Rio Grande do Sul ocorre de forma ilegal".
Vamos trabalhar para mudar esta pratica e que as autoridades venham a fazer sua parte.

JOÃO LA FARINA

Brasília - Distrito Federal - Indústria frigorífica
postado em 16/02/2011

ANDRÉ SORIO.

Estabelecer a cadeia de comercialização é um desafio para qualquer atividade produtiva, e no caso dos ovinos o desafio é pelo menos ainda maior. Não basta apenas abrir mercados de consumo da carne, é preciso primeiro organizar um pouco mais a cadeia para produzir com quantidade e regularidade.

Porém, as dificuldades do mercado não se resumem ao que acontece dentro da propriedade. A carne ovina vem enfrentando grande concorrência com a carne uruguaia já ha algum tempo, sem contar os abatedouros clandestinos que proliferam junto as cidades onde o consumo da carne ovina tem um valor consideravel. Nossos vizinhos do MERCOSUL têm quantidade, preço extremamente competitivo e qualidade, sem falar dos clandestinos que disputam o mercado ofertando animais fracos, doentes, com preços bem menores das empresas devidamente legalizadas neste segmento.

É claro que aqui no Brasil se consegue produzir uma carne de qualidade superior, porém, ainda não conseguimos competir com os custos de produção de nossos vizinhos, seja pela alta carga tributária, pela falta de subsídio do governo brasileiro ou pelo nosso rebanho, ainda menor que o deles.

É preciso aumentar o índice de produção, diminuir os custos e criar uma cadeia produtiva forte, com todos os elos bem estabelecidos, desde a produção, passando pelo beneficiamento da carne, até o consumo. E nessa luta é importante que todos colaborem de alguma maneira.

A grande dificuldade dos criadores é conseguir que algum frigorífico faça o abate terceirizado. Alguns apenas compram os animais de outros criadores, sejam eles participantes de algum projeto de integração ou não. Portanto, tudo pode mudar para melhor com a terceirização dos abates

O mercado da carne ovina ainda está em fase de implantação, de estruturação logística e de produção.

PARA COMEÇAR A ACABAR COM OS ABATES CLANDESTINOS, BASTA QUE OS GOVERNOS ESTADUAIS, JUNTO COM ÓRGÃOS FISCALIZADORES, FISCALIZEM OS EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS (RESTAURANTES, CASAS DE CARNES, DISTRIBUIDORES DE CARNES, FEIRAS ETC), E EXIJAM A NOTA FISCAL QUE COMPROVE A ORIGEM DO PRODUTO ESTOCADO!!!! PRODUTOS SEM NOTA É PRODUTO SUSPEITO. SENDO SUSPEITO DEVE SER APREENDIDO COM BASE NA LEI QUE REGULAMENTA O SETOR.

Conte conosco no que precisar!!!

Parabéns pela abordagem deste assunto tão polemico que é o abate clandestino.

João La Farina
FRIGORÍFICO CAMPESTRE
BRASÍLIA - DF

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 16/02/2011

Caros Selym e João

Não tenho dúvidas de que o combate EFETIVO ao abate clandestino é uma dos desafios mais importantes para a ovinocultura brasileira se fortalecer e ser competitiva. Com a palavra, os órgãos oficiais de defesa e vigilância sanitária de TODO o Brasil, que não dão a devida atenção a este grave problema fiscal e de saúde pública. Saudações a todos! André Sorio

Jose Nilo Aquino

São Borja - Rio Grande do Sul - Empresário
postado em 16/02/2011

...

Cuidado ao falar o termo " indústria " , mas afeito a linhas de montagem e coisas do gênero, o que realmente se necessita é uma linha de crédito federal para que cada município do brasil possa ter um abatedouro municipal com inspeção municipal ( SIM ) com uma câmara fria em anexo e que os mesmos sejam administrados de forma conjunta pelo produtor e prefeitura. O BNDS já beneficiou tanto os grandes...tá na hora dos pequenos. Assim iremos atender produtores e consumidores, diminuindo custos ( tem uns que só falam em grandes plantas industriais , até parece que recebem algum deles ) e aproximando o produtor do consumidor...pois o objetivo disso não é a pequena propriedade..ou o produtor ainda vai continuar a financiar grandes plantas que sabe-se lá se irão honrar os compromissos futuros ou pior, efetuarem cartéis ( tá dito, com a palavra o MP ) em detrimento do produtor.

...

Tiago Schultz

Mafra - Santa Catarina - Produção de ovinos de corte
postado em 16/02/2011

Abate clandestino: Não é assim com o gado? Com o Suino com o frango caipira? Abates clandestinos nunca acabarão. O negosio é ter produção suficiente pra abastecer os Frigorificos e os "frigomatos"!!!

Daniel Pires Alvorcem

Santa Maria - Rio Grande do Sul - Zootecnista
postado em 16/02/2011

Com todo o respeito devido as pessoas acho que a fiscalizacao somente resolve uma parte problema: sonegacao de impostos e fiscalizacao da sanidade do que eh oferecido para a populacao. Quem tem mesmo um grande poder para diminuir substancialmente este problema eh o produtor. Se o produtor tiver vantagens ele sempre vai querer estar dentro da legalidade, nao tenho nenhuma duvida disso! Mas o preco deve ser melhor, os medicamentos devem ser mais baratos, o conhecimento deve estar ao seu alcance. Assim como acontece com a bovinocultura. Uma grande conscientizacao sobre vantagens da fiscalizacao com campanhas educativas em medio/longo prazo tambem vai diminuir substancialmente o "frigomato". Mas incentivos ao produtor sao, na minha opiniao, a melhor e maior ferramenta para diminuir o abate clandestino!

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 17/02/2011

Caros José, Tiago e Daniel


Tiago, o que atrapalha a cadeia produtiva não é a existência do abate clandestino, mas a predominância dele sobre os abates inspecionados.

Possivelmente, como disse o José, uma das saídas seja facilitar a instalação de frigoríficos menores, com gestão direta dos produtores.

E gostaria de chamar a atenção do Daniel para o fato de que, na carne ovina, os preços ao produtor praticados no Brasil estarem entre os mais altos do mundo.

Luiz Eduardo dos Santos

Nova Odessa - São Paulo - Instituições governamentais
postado em 17/02/2011

Inicialmente parabéns aos autores, André Sorio e Lucas Rasi pelo artigo: conciso, objetivo e corajoso.

Os dados apresentados e as considerações dos autores evidenciam um dos maiores entraves ao pleno desenvolvimento da nossa ovinocultura, como uma alternativa segura e viável ao produtor rural, notadamente para pequenas e médias propriedades.

Nas diversas opiniões postadas ("cartas do leitor") são apontadas algumas das principais causas dessa situação e possíveis alternativas para a solução do problema, mas que só serão efetivas se adotadas de forma concomitante:

· Estímulo à ampliação e regionalização da rede de abate inspecionado através da disponibilização de linhas de crédito específicas para que um maior número de criadores tenha acesso à estrutura de abate inspecionado (abatedouros municipais ou regionais);

· Isenção fiscal para a produção e abate;

· Ampliação do suporte técnico e financeiro ao produtor como forma de aumento da produtividade e da qualidade do produto e redução da estacionalidade de oferta, visando o atendimento adequado da demanda;

· E, finalmente, a atuação efetiva e rigorosa na fiscalização, prioritariamente, como já foi dito pelo Sr. Farina, nos pontos de comercialização e consumo (restaurantes, casas de carnes, distribuidores de carnes, feiras, etc), com exigência de nota fiscal que comprove a origem do produto estocado e fiscalização rigorosa das condições de higiene e sanidade do produto.

Esses não são procedimentos fáceis de serem adotados em escala nacional, mas podem ser iniciados naquelas regiões de maior demanda de carne ovina. É só uma questão de começar... a palavra está com as autoridades.

A OVINOCULTURA AGRADECE...

Ivan Saul

São José dos Pinhais - Paraná - Produção de ovinos
postado em 17/02/2011

Meus prezados Doutores André e Lucas e demais colegas de FarmPoint.

Alta relevância tem o tema que os colegas propuseram à discussão. De tal forma, permitam-me aqui esclarecer alguns pontos.

Como eu tenho falado sobre clandestinidade, e agradecido pela existência do mercado informal que, reafirmo, é a única cadeia produtiva estabelecida na ovinocultura nacional. E antes que se diga que eu faço apologia ao crime (ou contravenção, não sei - meu conselheiro jurídico está de férias outra vez), preciso dizer que, tanto quanto os nobres colegas ao final do artigo constatam, as questões culturais e de sobrevivência econômica do produtor são, via de regra, subestimadas nos estudos sobre temática de tão grande importância.

Assim sendo, o assunto merece, também, uma abordagem acadêmica séria e profunda do ponto de vista da sociologia e antropologia. E não só o tratamento estatístico dos dados (duvidosos) referentes ao tamanho dos rebanhos e a quantidade de animais abatidos em estabelecimentos sob Inspeção Federal. Este estudo a ciência fica nos devendo.

Quero também deixar claro, que continuo acreditando que isso é um problema da indústria, que não gosta de concorrer por matéria-prima, e dos governos. Tanto pressionaram, normatizaram, taxaram, fiscalizaram e achacaram que tornaram inviáveis economicamente e empurraram para a clandestinidade os pequenos abatedouros locais e os açougues de vizinhança. Tiro no pé, pois empresa que não existe não paga imposto nem recebe fiscalização sanitária ou fazendária, vira caso de polícia.

Outro fator deveras importante, que raramente é levado em consideração, é o hábito alimentar. Quem tem paladar adaptado à carne ovina, aqueles que tiveram o privilégio de adquirir e desenvolver o gosto na infância, em geral nas regiões tradicionais em produção de ovinos, valoriza a visão da carne no gancho, que é a apresentação culturalmente aceita. Em várias regiões do país isto se dá nas "feiras livres", em público e sob fiscalização das prefeituras, isto é, poder público/governo.

As questões de saúde pública, sempre tão alardeadas, são muito sérias e o desrespeito aos procedimentos de abate, manipulação e transporte higiênico deve ser punido exemplarmente. Infelizmente o carimbo do SIF é aplicado no abate, daí para diante não existem mais garantias e ninguém é responsável pela qualidade sanitária da sua compra. Se ao chegar em casa saltam da embalagem R$40,00 de carne estragada, o consumidor reclama para quem? Como provar a má-fé ou a péssima condição de armazenamento ou manuseio?

Aproveito a oportunidade para espalhar a informação, nos USA não existe inspeção sanitária permanente nos abatedouros, lá são fiscalizadas eventualmente as instalações e os produtos que saem atestados pelo "controle de qualidade" de cada empresa.

Então, com visitas pontuais aos comerciantes (incluídos os restaurantes como bem lembrou o João La Farina), marchantes e distribuidores de carne, é possível exercer controle fiscal e sanitário sobre um maior número de estabelecimentos, de forma mais barata e eficiente. Não faz quem não tem interesse ou teme ferir a mão que o alimenta.

Já que a maior parte deste nosso país continental desconhece o termo ABIGEATO, explico que é assim que se chama genericamente, o roubo de gado no Rio Grande do Sul, os vagabundos são atrevidos e chegam a roubar de caminhão, carga fechada. O abate resultante é impossível de rastrear pois, às vezes, para economizar uma folha do livro de produtor, sai uma carguinha que pode até atravessar a fronteira mas, se fica, entra "sem origem" num mercado acostumado a não fazer perguntas. Bueno, se o volume de abates sob este sistema é tão grande, como é que ninguém vê onde são comercializadas estas carcaças? É diferente do tipo que sai e mata uma vaca (ou cavalo) para colocar paletas e quartos na clientela da vizinhança. Resumindo, se tem quem roube, é porque tem quem compre e, pelo volume, não é o açougue da vila. Coisa para polícia fazendária resolver, eu não entendo nada disso.

Toda inferência que se pretenda fazer sobre os abates clandestinos carrega em si o viés do imponderável, é incontável o número de "variáveis estranhas" atuando em diferentes momentos, que comprometem a fidedignidade das estimativas.

Por exemplo, quando se diz que um elevado percentual de fêmeas é abatido, não necessariamente significa a preferência pela informalidade no abate de cordeiros machos. Pode simplesmente significar que os produtores, depois de uma ano ruim (baixos preços da lã ou da carne, alta mortalidade ou baixo desfrute - pequeno número de cordeiros), estão descartando matrizes por capitalização ou abandono/redução do rebanho.

Em meu artigo "Quem não tem 500 ovelhas, não tem ovelha" abordei, de passagem, o tema dos abates para consumo e sua relação com o dimensionamento dos rebanhos. Seguindo a mesma linha de raciocínio, se 20% das fêmeas são descarte, não restam muitas para vender e, para as que restam, há o mercado dos estabelecimentos que embora não trabalhem com ovinos necessitam manter um rebanho regular para consumo (comprado anualmente). Estes animais que não chegam até a indústria não fazem parte das estatísticas oficiais de abate e não deixam descendentes, todavia, quando o recenseador do IBGE passou e perguntou - "quantas ovelhas tinha aqui em 31 de dezembro de 2006*?" - recebeu como resposta um número elevado de fêmeas ovinas, para o IBGE matrizes. Ovelhas consumo se compram nas feiras de início de verão, para quem não conhece este tipo de mercado, assim sendo, todo consumo do ano ainda estava vivo. (*se bem me lembro, data base do censo).

Ainda quanto a isso, é impossível concordar com o uso dos termos CLANDESTINO ou ILEGAL aplicados ao abate que se procede para o próprio CONSUMO. Talvez, por segurança, devamos vender nossos cordeiros por R$120 e comprá-los de volta no supermercado por R$300, de brinde, nos livramos dos pelegos, vísceras e cabeças.

Embora seja uma questão retórica, respondo ao questionamento do título, dizendo que: Não, não é possível calcular o tamanho da informalidade.

No mais, faço minhas as palavras do José Nilo Aquino (Parabéns colega!) e assino embaixo.

Saudações ovelheiras!
Ivan Saul, D.V.M. M.Sc.Vet. - Granja Po´A Porã, 17/fev/2011.
http://ivansaul.blogspot.com

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 17/02/2011

Caros Luis Eduardo e Ivan

Luis Eduardo, obrigado pelas palavras de incentivo.

Ivan, sobre as diversas afirmações tuas, todas muito interessantes, sugiro a leitura de um artigo publicado na Rev.Política Agrícola em 2010, esmiuçando esta questão de causa e efeito da informalidade na ovinocultura. Chama-se "Ovinocultura e abate clandestino: um problema fiscal ou uma solução de mercado?".

Já em relação às inferências do artigo, são uma alternativa científica legítima quando não se têm dados efetivos sobre determinado tema. Para isso, tenta-se chegar a um resultado a partir de dados secundários e da experiência dos pesquisadores, não se chegando exatamente a uma conclusão, mas a um caminho que possa ser aprofundado por pesquisas posteriores.

Acho que é interessante citar um dado, que não consta do artigo - Nos EUA, o abate nas propriedades mal chega a 4% do total de abates, enquanto no Canadá este índice é maior, quase 25%.

O próprio título do artigo mostra a intenção de trazer para a discussão este assunto, abate clandestino, que sempre provoca discussões apaixonadas.

Saudações a todos
André Sorio

Estéfano da Mota Pereira

Curaçá - Bahia - Técnico
postado em 17/02/2011

Concordo com o Daniel Alvorcem e o André0 Sorio, para que o problema do abate clandestino possa ser resolvido o poder público tem que atuar mais em campanhas educativas aos produtores que principalmente aqui no nordeste desconhecem as leis que dizem respeito ao assunto, outro ponto importante é o acesso aos frigoríficos sem estradas de qualidade, o que também dificulta o escoamento da produção e sem falar em uma assistencia técnica efetiva aos produtores para que eles possam diminuir o custo de produção tendo assim uma maior rentabilidade.

eldar rodrigues alves

Curitiba - Paraná - governo
postado em 17/02/2011

Para pensar.....
Quem, se não o abate informal, manteve a atividade (ovinocaprincoultura) viva até hoje?

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 18/02/2011

Caros Estéfano e Eldar

Sem dúvida, o abate informal é responsável pelo atual estágio da cadeia produtiva da carne ovina brasileira.
Mas, tenho certeza, não será com a clandestinidade que o Brasil será capaz de suprir seu mercado interno e, quem sabe um dia, exportar os excedentes.

eldar rodrigues alves

Curitiba - Paraná - governo
postado em 18/02/2011

Caro Andre Sorio
Concordo plenamente!

Tiago Schultz

Mafra - Santa Catarina - Produção de ovinos de corte
postado em 19/02/2011

É isso aí Andre, precisamos de pessoas como você para incrementar soluções inteligentes para acabar de vez com a clandestinidade. Parabens pelas respostas e pelo seu trabalho.

EDUARDO PICCOLI MACHADO

Alegrete - Rio Grande do Sul - Produção de ovinos de lã
postado em 20/02/2011

Caro André Sorio,

Depois de alguns dias ausente mas sempre acompanhando, permito-me a palpitar e dizer que a minha linha de pensamento é a mesma do Ivan, Eldar e do meu quase vizinho José Nilo e reiterar, que foram praticamente 30 anos de abandono pela legalidade que nos jogaram na informalidade, tanto na carne como na lã.

Sem o mínimo intuíto em criticar o teu artigo, mas muito pelo contrário, incentivá-lo na pesquisa estatística, posso dizer também que dados do IBGE e do SIF quanto a ovinocultura não tem a mínima correspondência com a realidade. No RS, os dados mais fidedignos ainda são os das inspetorias veterinárias, que recém estão se informatizando, pois na nossa ficha anual de controle informamos a quantidade abatida para consumo, as mortes naturais e também o abigeato, além de possuirem toda a movimentação de venda para remates e abates. Hoje,devido a quase isenção fiscal sobre a carne, é muito comum nas regiões produtoras de ovinos, os açougueiros comprarem lotes em remates e abaterem em abatedouros de inspeção municipal. Na minha região cada cidade tem um e propicia que os açougueiros atuem na perfeita legalidade. Só que estes dados estão disponiveis somente pelas Inseptorias e este volume não é pequeno devido a nossa cultura de consumir carne ovina em todas as classes sociais.

Lembro, como muitas vezes temos comentado nos debates deste site, que a ovinocultura gaúcha tem mais de 200 anos e até a Guerra do Golfo em 1991, possuíamos uma cadeia organizada, através de nossas Cooperativas. Assim encerro esta participação com este comentário para demonstrar que já vimos este filme antes e com muita desconfiança vemos a boa vontade da indústria, hoje, pois há 20 anos tiraram a nossa escada e ficamos dependurado no pincel, pelo estrito interesse econômico dela.

Ivan Saul

São José dos Pinhais - Paraná - Produção de ovinos
postado em 21/02/2011

Ilustres Doutores André e Lucas e demais colegas de FarmPoint.

Tendo em vista sua recomendação, dediquei-me a leitura de seu artigo completo na Revista Política Agrícola, com a intenção de melhor instruir-me sobre o tema. Volto a participar desta argumentação em torno deste assunto, já explorado à exaustão, em razão de atender aos interesses da indústria e dos governos que desejam transferir para os produtores a responsabilidade pelo combate à informalidade/clandestinidade.

Ao decidir abandonar a vida acadêmica, uma das minhas motivações foi livrar-me da mesmice e dos reduzidos sensos comum e prático da produção científica em geral, ou seja, poder deixar de ser rato de biblioteca e ler sempre os mesmos conteúdos em artigos científicos que, em grande parte dos casos, não têm maior compromisso com a verdade do que com a vaidade do autor. Felizmente, foi com grande alegria que confirmei minha conclusão anterior, encontrei no seu artigo - "Ovinocultura e abate clandestino: um problema fiscal ou uma solução de mercado?" - uma abordagem clara do tema informalidade/clandestinidade.

Não entendi a causa dos senhores terem alterado o título ao resumir o trabalho, fazendo-o muito foi perdido em termos de precisão, o título original descrevia muito melhor o conteúdo.

Gostei tanto do seu artigo científico que proponho, aos senhores e ao FarmPoint, a disponibilização da totalidade do conteúdo, ao menos em forma de "link", para democratizar o acesso do público ao seu importante estudo.

Diante de levantamento tão relevante e da minha ignorância em "business administration", tive a curiosidade de conhecer as referências bibliográficas citadas, já na primeira encontra-se a afirmativa "o mais relevante fator sistêmico..." e senti a necessidade de entender seu significado. Definição difícil de explicar aqui neste espaço, os interessados podem procurar a dissertação de mestrado da Doutora Nívia Guimarães da Costa em www.biblioteca.sebrae.com.br. Pelo que entendi, são os fatores que não sendo inerentes à empresa ou à conjuntura institucional (internos ou externos à empresa), intervêm de alguma forma na competitividade (da empresa) no mercado (da carne de cordeiro neste caso). Confirmando os resultados obtidos na pesquisa informal realizada por este site sobre os entraves à ovinocultura nacional, ainda que distintas em relevância, diante das diferenças entre os públicos (a amostra do FarmPoint contém menor proporção de empresários do setor industrial ou comercial, além de ser maior do que a utilizada pela autora).

Com a intenção de continuar aprendendo sobre o tema, acabei por desistir, ao tentar encontrar o trabalho em que "Holanda Júnior et al. (2003), afirmaram que "a má qualidade da carne ovina consumida no Brasil é decorrente do baixo nível de higiene nas operações de abate. Além disso, a precariedade da inspeção sanitária estende-se ao local de venda, colocando em risco a saúde da população."

Encontrei, somente, uma publicação do mesmo ano, em que estes autores estudaram a "articulação da cadeia produtiva para atender a demanda por carnes diferenciadas e o desenvolvimento local ... das regiões pobres do Nordeste Semi-Árido", e dizem:

"A má qualidade das carnes é decorrente do abate de animais com idade avançada e mal terminados, que é resultado do manejo deficiente dos rebanhos; da péssima forma de estocagem e comercialização e do baixo nível de higiene nas operações de abate e comercialização, tendo-se verificado que no varejo a maior parte da carne é comercializada sem o uso de embalagem apropriada. A inexistência ou precariedade de inspeção no local de vendas destes produtos coloca em risco a saúde da população." (sic)

Se me for permitido, já que ciência não é fazer mistério, gostaria de pedir aos autores de artigos que contenham revisões de literatura, os científicos, que tenham a bondade de disponibilizar os "links" para as publicações citadas. Poupariam, àqueles interessados nos fundamentos científicos das suas afirmativas, o tempo de andar buscando as citações nas bases de dados (ao menos daquelas publicações disponíveis na internet).

Voltando à sua resposta ao meu comentário anterior, quero dizer que não duvidei do método estatístico utilizado para análise do presente artigo, outrossim, me referi ao fato de que o imponderável, as "variáveis estranhas", intervenientes em trabalhos do tipo que os senhores se propuseram fazer, tornam impraticável o "cálculo" das estimativas do tamanho da informalidade e/ou clandestinidade nos abates de ovinos no país. Estimativas baseiam-se em cálculos, estes fornecem intervalos de confiança que possibilitam estimar as grandezas dos objetos em estudo (parâmetros). É semântica pura, mas estatística é uma ciência exata e as palavras que exprimem significados passíveis de interpretações diversas deveriam ser evitadas em ciência. Cálculo é cálculo, modelo matemático é modelo matemático e não só podem como devem ser representados por uma equação (no mínimo, a + b = b + a).

Peço-lhe desculpas, todavia, pois não me propus inicialmente, nem me proponho agora, ao debate deste tema que considero desgastado, repito.

Diferentemente, minha proposta foi a de resguardar meu ponto de vista (público), que é compartilhado com outras pessoas, quanto à informalidade/clandestinidade na ovinocultura - como foi dito - antes que se pensasse que eu faço apologia ao crime/contravenção.

Parabéns pela publicação, senhores!

Saudações ovelheiras!
Ivan Saul, D.V.M. M.Sc.Vet. - Granja Po´A Porã, 20/fev/2011.
http://ivansaul.blogspot.com

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 21/02/2011

Caros Tiago e Eduardo

Tiago, obrigado pelo elogio. Serve como combustível para continuar nesta tarefa de buscar soluções para a competividade da ovinocultura.

Eduardo, esta questão dos dados é sempre bastante complexa. Um número representa uma fotografia, portanto estática, de um determinado momento. A pecuária não é estática (sempre temos animais nascendo e morrendo num rebanho).

Uma das questões que fiz questão de ressaltar no artigo é que os órgãos estaduais parecem nao ter compromisso com a divulgação de dados da ovinocultura, pois NENHUM tem números atualizados do que acontece em suas jurisdições.

Quanto maior a transparência, maior costuma ser a competitividade de determinada cadeia produtiva, pois diminui um dos fatores que mais prejudica os produtores, que chamamos de "assimetria de informações".

Permita-me contar que há 3 semanas estive no RS, visitando um produtor de ovinos, que teve 8 animais abatidos no campo e roubados no dia anterior à minha visita. O abate clandestino acaba por servir de manto para este tipo de criminoso.

Ao mesmo tempo, o produtor tem todo o direito (pelo histórico ruim) de desconfiar de boas intenções por parte da indústria frigorífica, que está longe de ser um bom exemplo de parceiro.

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 21/02/2011

Caro Ivan

Fico feliz com teus elogios sobre o artigo cientifico que deu origem a este artigo aqui debatido. Para editar aquele material para o formato do Farmpoint, tivemos que quebra-lo em 2 - um com dados e outro com as causas (o seguinte será publicado após o carnaval). E, neste portal, optamos por utilizar as informações mais relevantes, suprimindo a maior parte da discussão teórica sobre o assunto.

Sobre a questão do método estatístico, não duvidei de teu entedimento sobre o tema, mas achei que seria interessante esclarecer aos demais leitores sobre esta questão que reconheço ser polêmica que é tentar chegar a alguma conclusão a partir de dados fragmentados.

Edgar Miquelanti

Atibaia - São Paulo - Consultoria/extensão rural
postado em 22/02/2011

Prezados colegas,
Auguste de Saint-Hilaire em suas viagens ao interior do Brasil nos anos de 1800 e alguma coisa, já descrevia o abate clandestino como a forma praticada de abastecimento das comunidades e arraiais nos rincões do nosso país. Mesmo nas casas da corte o abastecimento era feito por mecanismos que em nada diferiam dos que chamamos "clandestinos".

Lamento profundamente que o Brasil sempre optou pelo modelo industrial de concentração onde o "terroir", a marca local, não possam sobreviver ou vivem em constante agonia. Modelo que aniquila a diversidade do saber-fazer da produção à cozinha brasileira. Impressiona-me viajar distâncias continentais no Brasil e encontrar a mesma "grande" marca de carne de carneiro nos supermercados. É como encontrar "arroz com bife" como um prato típico do Oiapoque ao Chuí. Traço típico de atraso cultural, do qual decorrem todas as mazelas econômicas.

A informalidade, deve ser combatida ( mania de Brasileiro certinho conhecido no Brasil moderno como o bobo da corte ) mas não é viável tão pouco, um modelo que não incentiva a diversidade, que não valoriza o comércio local. Este modelo de concentração ( que fomenta a informalidade ) poderá ter muitos anos de vida, mas não é sustentável.

O abate clandestino no Brasil ainda existe porque a sociedade teima ao longo dos anos em nos transmitir alguma mensagem do tipo: O modelo atual não nos atende.

Aos colegas que defendem a existência de frigoríficos menores meus cumprimentos. Que exista espaço para todos, grandes e pequenos. Para a agricultura sustentável a única saída é o fomento à pequena/media empresa ( com regras econômicas, jurídicas, sanitárias e ambientais) viáveis, com legislações onde fica clara a vontade do Brasil de incentivar a pluralidade, a diversidade. Não defendo subsídios, defendo regras claras e plausíveis para todos. A iniciativa privada sempre deus provas de poder mover a máquina econômica.

Estaremos investindo na valorização das comunidades locais, que trazem em si seu jeito de fazer: criando, colhendo, abatendo, vendendo, cozinhando e comendo...enfim investindo nos "Brasileiros".

Obviamente a fiscalização como mecanismo para fazer valer e de quebra a atividade renderia impostos e cumpriria seu papel social.

Antonio Lemos Maia Neto

Salvador - Bahia - Instituições governamentais
postado em 22/02/2011

Realmente esse é um tema de grande relevância para consolidação do desenvolvimento da caprinovinovultura do país de forma sustentável e para a promoção da saúde pública.

Interessante é que havia lido no início do mês, o artigo "Ovinocultura e abate clandestino: um problema fiscal ou uma solução de mercado?" da Revista Política Agrícola de 2010. Assim como o presente artigo em discussão, ele traz uma análise sobre o tema, impar. Até aquele momento desconhecia uma estudo dessa natureza para a caprinovinocultura. Os autores estão de parabéns.

Imediatamente levamos o artigo para a primeira reunião do ano da Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos do Estado da Bahia, onde as discussões sobre a informalidade da cadeia vem se afunilando. E ambos os artigos tem contribuído para nossas discussões. Motivo pelo qual gostaríamos de agradecer aos autores e agora ao Farmpoint para está contribuindo para o debate.

Trata-se de uma questão que não pode ficar restrita ao´Ministério da Agricultura e Agências Estaduais de Defesa Agropecuária. Um dos pontos críticos de todo essa problemática recai sobre a inoperância das Vigilâncias Sanitárias Municipais, responsáveis pelo controle sanitário no varejo. Acreditamos que um dos caminhos a se seguir é provocar os órgãos da saúde a se envolverem da questão, não apenas no nível municípal, mas também o Ministério da Saúde, ANVISA e as Secretarias Estaduais de Saúde.

Esse e outros temas como tributação, e pagamento diferenciado por qualidade fazem parte da pauta da Câmara Setorial da Bahia.

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 22/02/2011

Caros Edgar e Antonio

Edgar, concordo que o Brasil terá que encontrar uma saída para atender ao abate em pequena escala espalhado pelo Brasil, com suas diversas características regionais. Quem sabe a criação de selos de origem para o cordeiro de regiões características não seja uma das saídas? Cordeiro do Pantanal, Cordeiro da Caatinga, Cordeiro do Pampa, Cordeiro do São Francisco, e por aí vai.

Mas insisto que, será através da formalização dos abates que a carne ovina brasileira conseguirá melhorar sua competitividade - deixar de ser ameaçada pelo produto importado, se tornar uma opção viável para o consumidor urbano, e talvez um dia ser exportada.

Antonio, obrigado pelo elogio e parabéns pela iniciativa de levar um tema tão ingrato, que mexe com muitos interesses ocultos, para a ordem do dia da Câmara Setorial baiana. Afinal, com o 2o maior rebanho, a Bahia serve como exemplo para o restante do Brasil.

Nelson Luiz da Silva Junior

Assis - São Paulo - OUTRA
postado em 26/02/2011

Caríssimos.

Li e concordo com a maior parte das opiniões contidas expostas. Não tenho mais nada que possa complementar esse debate, a não ser que acredito que a clandestinidade, para o criador, principalmente os pequenos, é uma maneira de colocar seu produto no mercado, sem ter que pagar para que isso ocorra. Todavia, com minha opinão, não quero dizer que concordo com a ilicitude, mas trate-se da necessidade de por na mesa, o o arroz e o feijão de cada dia.

Sei da existência de criadores potenciais que são adeptos a essa prática, mas conheço muitos pequenos produtores que tentaram formalizar a atividade e não tiveram o retorno especificado nos projetos, principalmente por que não abordam "os imprevistos": clima, falta de segurança, compradores conscientes, entre outros.

Trata-se de um tema muito polêmico, onde do ponto de vista da necessidade de sobrevivência, da competição, e daqueles que tem recursos financeiros para investir, é difícl dizer quem está certo ou errado. Já ouvi muita gente dizer que quem não tem condições, que abandone a atividade, mas é muito fácil dizer isso sem olhar para atrás.

Abraços à Todos.

KiLOViVO - Ovinocultura de precisão - (65)99784004

Tangará da Serra - Mato Grosso - Técnico
postado em 26/02/2011

Estimado Dr. André Sório:

Por oportuno: Caro André, transmita um grande abraço ao seu pai Dr. Humberto Sório, mestre e companheiro de andanças pelo MT.

Me permita um comentário sobre a FALTA de pequenas unidades industriais tão oportunamente abordada em comentários precedentes.

Por mais que as palavras "sustentabilidade", "subsistência" e "sobrevivência" estejam batidas e, por vezes, desgastadas, elas sempre representarão a base dos objetivos de QUALQUER empresa. É impossível instalar um empreendimento industrial que dependa do abastecimento de uma matéria-prima produzida por terceiros sem visualizar PREVIAMENTE uma SOLIDEZ quanto à qualidade, quantidade, regularidade e disponibilidade tanto do abastecimento quanto da matéria-prima. Nós mesmos fazemos, enquanto consumidores, exatamente as mesmas exigências para termos o hábito de consumir qualquer tipo de produto.

A disponibilização individual voluntária pelo produtor de animais para abate envolve, via de regra, lotes pequenos, casuais e heterogêneos. Essa é, ainda, a realidade da ovinocultura de corte nacional que, justamente por isso, não consegue evoluir a sua capacidade de transformar ovinos brasileiros em carne suficiente para abastecer a demanda interna. Certa vez um consultor do SEBRAE informou que um abatedouro de ovinos, para ser viável economicamente (pagar os custos fixos e variáveis; e obter algum lucro), precisaria contar com uma rotina de, no mínimo, 80 cabeças abatidas por dia, durante o ano. Fugindo de algum possível nível de imprecisão desse número, vamos, então, considerar 40 cab/dia (a metade), apenas. A matemática nos informa, então, que o rebanho necessário para isso deve ser de, no MÍNIMO, 15.000 cabeças direcionadas especificamente para atender essa demanda. Considerando a realidade atual da distribuição casual e ocasional do rebanho ovino nacional, essa oportunidade de negócio (pequenas indústrias regionais) não é nem um pouco atrativa.

Por tanto, não basta existir ações de órgãos governamentais no sentido de incentivar e apoiar e/ou desenvolver projetos que resultem, unicamente, numa disseminação de pequenas unidades industriais. Estão cada vez mais urgentes as ações direcionadas à introdução de métodos de produção que sincronizem as unidades de produção com as unidades de transformação e beneficiamento. É um trabalho simples quanto à arquitetura do cenário, mas difícil quanto à conscientização dos personagens que deverão integrá-lo.

Encerrando essa participação, uma opinião sobre "clandestinidade" e "informalidade": Quero corroborar com opiniões já manifestadas por alguns companheiros sobre o fato de a informalidade do fornecimento de carne ovina ser, atualmente, uma NECESSIDADE para um grande número de ovinocultores; e enfatizar, também, que a clandestinidade, por uma questão de semântica e de realidade, é CASO DE POLÍCIA. Portanto, são palavras que deveriam ser usadas de maneira criteriosa para que as análises possam ter efetividade.

Um abraço.

KiLOViVO - Ovinocultura de precisão - (65)99784004

Tangará da Serra - Mato Grosso - Técnico
postado em 26/02/2011

Prezados companheiros defensores da ovinocultura de corte que acompanham este fórum:

Agora, focando especificamente o tema principal proposto e pedindo licença aos especialistas no assunto, digo, ratificando outros comentários já postados aqui, que "clandestinidade" tem a intenção prévia de burlar a legalidade em toda a sua abrangência e a "informalidade" está na necessidade de dar escoamento a pequenos volumes de produtos a fim de transformá-los em renda suficiente para ressarcir os custos de produção e gerar algum lucro para justificar o empreendimento. Essa última também fere a legalidade, mas por necessidade e não por interesses escusos. A primeira é desonestidade e deve ser punida; e a segunda é sobrevivência, devendo ser suportada.

Tanto uma situação como a outra envolvem quantidades talvez semelhantes de ovinos, porém IMENSURÁVEIS. Elas colocam em cheque, é claro, a segurança alimentar do consumidor. Mas, da mesma forma,ovos, galinha caipira, leitoas, leite e pescados produzidos na informalidade em quantidades muito superiores à carne ovina também são duvidosos. E o que dizer sobre os mais de 90% da Agricultura Familiar que trabalha na mesma informalidade e é tão elogiada pelos produtos que coloca na mesa de consumidores do país inteiro?

Aliás, é importante ressaltar que o total de carne ovina atualmente produzida e comercializada na clandestinidade e/ou na informalidade jamais abastecerá a demanda nacional pelo produto, tanto na condição do consumo atual e muito menos no futuro. Quando formos suficientemente eficientes e profissionais para usufruir do nosso potencial, esse tipo de discussão não mais terá razão de ser.

Recomendo trabalhar para conquistar, ao invés de criticar para se defender.

Quem caminha olhando os próprios pés evita tropeços, mas, ao abdicar da visão do horizonte, não tem segurança de para onde está indo e nem de quando vai chegar, mesmo tropeçando.

Um abraço a todos.

Andre Sorio

Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Consultoria/extensão rural
postado em 28/02/2011

Caros Nelson e Giorgi

Obrigado pela participação e pelos comentários.

Giorgi, tuas 2 postagens são muito precisas e concordo plenamente com elas.

Pode deixar que transmitirei teu ao abraço ao meu pai e teu ex-professor.

Natalino Rasquinho - Zootecnista UNEAL

Nova Odessa - São Paulo - Mestre em Produção Animal Sustentável - IZ
postado em 01/03/2011

Prezado Dr. André Sório

Li o artigo e todos os comentários postados, e, realmente gerou uma enorme discussão, no entanto, sabemos que é uma atividade de subsistência de muitas famílias e que as condições sociais e econômicas dificultam a evolução de práticas comerciais que atendam a regularidade de abate.

Acredito que o Sr. Giorgi foi muito feliz nos seus comentários, pois devemos sim "trabalhar para conquistar ao invés de criticar para se defender" e se os caros colegas refletirem sobre tudo que foi citado por este senhor, quem sabe o trabalho não fluirá no mesmo sentido e as coisas comecem a melhorar.

Como descreveu o colega Edgar Miquelanti, em que há registro de clandestinidade nesta atividade desde os primórdios do século 19. Ora, é do conhecimento geral, a evolução das normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e os cuidados na Manipulação de Alimentos. Estas práticas acompanharam as exigências do mercado internacional em detrimento as exportações de produtos cárneos e que acabou beneficiando o mercado interno, porque nós consumidores passamos a exigir produtos de melhor qualidade.

Sabemos fazer e por onde começar basta o trabalho concomitante, citado pelo Dr. Luiz Eduardo. Só que não é fácil. E fazendo uma referencia sobre abatedouros citado pelo Sr. Giorgi, podemos tomar como exemplo as usinas de beneficiamento de Biodiesel implantado pelo governo federal em parceria com instituições privadas. Algumas deixaram de funcionar, outras estão tentando sobreviver. Tem estrutura, mas falta matéria-prima, inicialmente investiram em mão de obra técnica, em seguida abandonam os produtores. Mas é um assunto para outras discussões, no entanto, devemos considerar quando falamos sobre o desenvolvimento da ovinocultura, se não houver união, e não fortalecer os rebanhos regionais, não será possível manter abatedouros legais e conseqüentemente as discussões continuará.

Parabéns ao Dr. André Sório e seus colegas e ao Sr. Giorgi

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